quarta-feira, agosto 22, 2007

Jovem gosta e quer ler, mas acesso aos livros é difícil

Julia Dietrich

(Portal Aprendiz)




"Eu gosto muito de ler, mas a biblioteca da minha escola está sempre fechada. Só podemos entrar se a professora reservar a sala, o que nunca acontece". A afirmação é de Everton Dias, que aos treze anos não recebe autorização da Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) Felício Pagliuso, em São Paulo (SP), para ter acesso aos livros, revistas e gibis da biblioteca da instituição.

Infelizmente, o caso não é exceção. Segundo a Associação dos Professores do Estado de São Paulo (Apeoesp), em recorte do censo escolar 2006 realizado pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-econômicos (Dieese), apenas 15% das mais de cinco mil escolas estaduais paulistas têm bibliotecas e, na maioria dos casos, o acesso é controlado. "É fundamental que as bibliotecas fiquem abertas e que tenham profissionais capacitados responsáveis pela organização do material e auxílio aos alunos", conta o presidente da associação, Carlos Ramiro de Castro. De acordo com a mesma pesquisa, 73% das escolas públicas do estado não têm bibliotecários, funcionando apenas como depósito de livros ou salas de leitura.

Em contrapartida, Juliana de Ferran Cremone, de 11 anos, que estuda em escola particular bilíngüe de Curitiba (PR), não só tem acesso livre e irrestrito aos livros na escola, como busca bibliotecas públicas para satisfazer sua enorme vontade de ler. "Acho que meu gosto pela literatura vem muito do incentivo da minha mãe e da minha bisa-avó que me dão livros e sempre insistiram que eu lesse bastante", conta, associando seu hábito também ao fato de ser aluna da rede particular de ensino.

Para o presidente da Apeoesp, o governo tem absoluta responsabilidade na oferta da literatura aos jovens. "Se não agirmos rapidamente, a distância entre os jovens que saem das escolas públicas em relação ao das particulares será cada vez maior", observa, lembrando que o gosto pela leitura está ligado ao incentivo que a família dá. "Como o pai da escola pública não tem tempo para encorajar seus filhos porque está trabalhando ou como ele mesmo não teve acesso, forma-se um ciclo ininterrupto", analisa.

Em média, os livros infanto-juvenis não saem por menos de R$15,00. "É mais do que o preço, é a falta do culto à leitura presente em toda sociedade, do âmbito familiar à estrutura das escolas", indica Castro. Porém, em alguns casos, por razões individuais, a vontade de ler rompe as barreiras financeiras. "Tenho alguns gibis e já reli cada um pelo menos três vezes. Enquanto não ganho outros, volto aos meus antigos. Isso que é legal da leitura, dá para ler tudo várias vezes e sempre descobrir coisas novas", explica Dias, de apenas 13 anos.

Na tentativa de transformar esse panorama, o governo federal, em parceria inédita entre Ministério da Cultura e Ministério da Educação, desenvolveu o Plano Nacional do Livro e da Leitura (PNLL) que aumentou o número de bibliotecas e acervo em mais da metade dos municípios brasileiros. Para o presidente da Apeoesp, a ação é fundamental, mas o reconhecimento dos profissionais da área deve ser maior e o incentivo governamental deve percorrer todos os setores do país. "Não adianta doar livros, se não tiver quem os organize. É preciso que a ação seja cada vez maior e englobe todos de forma autônoma dos partidos. A descontinuidade de políticas públicas ainda é um dos problemas centrais na escola", verifica. Segundo o secretário do PNLL, José Castillo, o grande diferencial do programa é ser suprapartidário e manter-se contínuo ao longo das futuras gestões é uma de suas grandes metas.

Aline da Silva Santos, que atualmente trabalha como adolescente aprendiz em uma empresa de seguros, conta que foi sua vontade e gosto pela literatura que a ajudou a se destacar profissionalmente. "Quando conseguia ir a biblioteca da escola, sempre pegava livros emprestados que aumentaram meu vocabulário e senso crítico. Sempre descubro coisas novas", diz a menina, hoje com 17 anos.

Ler o quê?

Entre os jovens que lêem, os gêneros de aventura e mistério figuram como os favoritos. "O leitor se identifica com os protagonistas das histórias. Ele se vê vivendo os conflitos e jornadas de amadurecimento próprios da sua juventude", conta a editora do segmento infanto-juvenil na Editora Ática, Gabriela Dias, lembrando que a partir dos 13 ou 14 anos as meninas começam a se interessar mais por histórias que tenham romance e os meninos, aventuras de turmas juvenis que envolvam molecagem, que trabalhem conceitos de união de grupo.

"Porém, é claro que determinada literatura não é exclusiva de certo gênero. As meninas gostam muito de aventura, mas, como característica da própria idade, elas se interessam por temas como o primeiro beijo ou o primeiro amor", conta, citando como exemplo, a coleção para meninas pré-adolescentes, "Psiu!É segredo."

No ano em que completa 35 anos, a coleção Vaga-lume, voltada ao público juvenil, continua a ser um marco editorial com 90 títulos no catálogo, além dos novos que estão sendo lançados. A primeira edição da coleção foi lançada com 50 mil exemplares de cada título. De 2001 a junho de 2007, a Coleção Vaga-lume vendeu mais de 1,5 milhões de exemplares, segundo a empresa. "Eu li quase todos, pois são super divertidos. Tem sempre um mistério a ser resolvido, aventuras com pessoas da minha idade", conta a estudante Cremone.

Bruna Mikelly, oito anos, que recém ingressou no universo dos livros, se identifica muito com o feminino dos contos de fada. "Gosto de imaginar e os livros ajudam a gente a fazer isso", conta.

Abrindo portas

Para Castro, a literatura é a porta de entrada para o auto-conhecimento e para desvendar os mistérios do outro. "Quando o jovem lê, ele passa a se questionar e questionar aquilo que vê no mundo. Ao tomar conhecimento de outras realidades, ele vê a sua própria", observa.

Nessa perspectiva, a editora Dias conta sobre uma coleção da Ática que transpõe grandes clássicos para a linguagem e contexto do jovem. "Clássicos são universais porque trabalham temas que permanecem atemporais. É uma forma de despertar a curiosidade do jovem para ler autores clássicos e verificar que eles trabalharam questões ainda atuais e presentes na sociedade", verifica.

Segundo a editora, para competir com videogames e a grande oferta de filmes e desenhos animados é preciso incentivar a possibilidade da imaginação. A posição é referendada unanimemente por todos os jovens entrevistados. "Na tevê vem tudo pronto, não tem tanta graça. É bem mais divertido imaginar o que meus heróis estão fazendo e às vezes, consigo até mudar a história que está escrita e fingir que estou participando dela", pontua Everton Dias sobre as histórias em quadrinhos e livros de aventura que tanto aprecia.

Cremone diz que os livros fazem com que ela busque conhecer mais sobre os temas. "Quando começo a ler sobre uma coisa vou atrás de mais histórias sobre o tema. Gosto de acompanhar coleções e o divertido é que sempre aprendo algo novo e posso imaginar. Nos filmes e nos desenhos não tenho espaço para isso", conclui.

sábado, agosto 18, 2007

politicas publicas para o livro a leitura e bibliotecas

Resumo

O artigo passa em revista as políticas públicas nacionais para
o livro, a leitura e as bibliotecas. Recupera seus antecedentes
históricos, discute sua situação atual e analisa suas
perspectivas. Descreve os programas governamentais mais
recentes, apontando as contradições e desigualdades que os
caracterizam.
Palavras-chave
Políticas públicas para o livro, leitura e biblioteca.
Analfabetismo. Analfabetísmo funcional. Indicadores de
analfabetísmo funcional. Cenário da leitura no Brasil.
Lei Rouanet. Plano nacional do livro e leitura. Brasil.
Public policies for book, reading and library

Abstract

The article analyses Brazilian national public policies for
book publishing, reading and for libraries. It recoveries the
history of those policies, discusses their present situation
and evaluates their perspectives. Recent government
programmes on this issue are described and have their
contradictions and inequalities pointed.
Keywords
Public policies for the book, reading and library. Reading and
library. Illiteracy. Functional illateracy. Functional illetaracy
indicators. Scenario of reading in Brazil. Rouanet Law.
National book and reading plan. Brazil.
Políticas públicas para o livro, leitura e biblioteca
Flávia Goullart Mota Garcia Rosa
Mestra em ciência da informação pelo PPGCI/UFBA. Professora da
EBA/UFBA.
E-mail: flaviagoulartgr@yahoo.com.br
Nanci Oddone
Doutora em ciência da informação (UFRJ/Ibict). Professora do PPGCI/
UFBA.
E-mail: neoddone@uol.com.br

UM BREVE PANORAMA DA LEITURA NO
BRASIL, CENÁRIO CONTRADITÓRIO E
DESIGUAL

O Brasil tem a maior produção editorial da América
Latina e é responsável por mais da metade dos livros
editados no continente (LINDOSO, 2004). Com uma
indústria editorial bem-sucedida, apesar de uma
trajetória que se iniciou tardiamente no século XIX,
chegou-se ao novo milênio vendo consolidada essa
indústria, notadamente no que diz respeito à qualidade
gráfico-editorial. Possui razoável número de editoras em
atividade – 530 editoras concentradas nas regiões Sul e
Sudeste, segundo a Câmara Brasileira do Livro (CBL), e
114 editoras universitárias, conforme dados da
Associação Brasileiras de Editoras Universitárias (Abeu)
– e um mercado potencial que tem despertado a cobiça
dos grandes grupos editoriais estrangeiros, sobretudo por
conta do mercado de livros didáticos altamente
financiado pelo governo federal. Mesmo assim, existem
fatores que interferem no seu processo de expansão.
O baixo índice de leitura de sua população talvez seja o
obstáculo mais comprometedor para a superação das
dificuldades e é uma conseqüência das condições
socioeconômicas e educacionais da população do país.
Ainda que a Constituição Federal, no seu Título I – Dos
Princípios Fundamentais, disponha como objetivos
fundamentais uma sociedade livre, justa, solidária, com a
redução das desigualdades sociais e a erradicação da
pobreza, e, no Capítulo II – Dos Direitos Sociais, assegure
ao cidadão direitos sociais como educação, trabalho, lazer,
saúde, segurança, moradia (BRASIL, 1988), o Índice de
Desenvolvimento Humano (IDH) do Brasil traduz uma
situação de desigualdade social e de não-cumprimento
do que determina a Constituição.
O IDH é a síntese de três fatores – longevidade, educação
e renda – apresentados no Relatório de Desenvolvimento
Humano do Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento. Situa o Brasil em 63ª posição entre
177 países auditados, ficando atrás, inclusive, de sete
países da América Latina: Argentina (34º), Chile (37º),
Uruguai (46º), Costa Rica (47º), Cuba (52º), México (53º)
e Panamá (56º) (AFP, 2005). Além do IDH, outros índices
são preocupantes não apenas pelo seu reflexo na atividade
editorial especificamente, mas porque demonstram que
o país ainda está distante de alcançar o desenvolvimento
nacional e a cidadania.
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Com relação ao analfabetismo, uma pesquisa nacional
denominada Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf),
realizada pelo Instituto Paulo Montenegro – Ação Social
do Ibope e pela ONG Ação Educativa, tem como dados
conclusivos o seguinte:
Habilidade de Inaf 2001 Inaf 2003 Inaf 2005
alfabetismo
Analfabetismo absoluto 9% 8% 7%
Muito baixa 31% 30% 31%
Básica 34% 37% 38%
Plena 26% 25% 26%
Fonte: Instituto Paulo Montenegro/Ibope
A pesquisa do Inaf, ao estabelecer “[...] correlação entre
letramento e condição social, [tornou] possível perceber
que, [...] quanto menor o tempo de escolaridade e a
condição socioeconômica, tanto menor é o desempenho
do candidato” (BRASIL, 2005). Conclui-se que a
condição socioeconômica é fator responsável não só pela
permanência do aluno na escola, mas também pelo seu
desempenho para alcançar satisfatoriamente o
letramento.
Dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais Anísio Teixeira (Inep) reforçam os dados
apresentados e revelam que existe atualmente no Brasil
mais de 16 milhões de analfabetos. Considerando os
analfabetos funcionais, caracterizados como pessoas com
menos de quatro séries concluídas, são mais de 33 milhões
de analfabetos. A região Nordeste concentra quase 50%
desse contingente, e, por esses indicadores, pode-se
relacionar o baixo desenvolvimento econômico dessas
regiões e conseqüentemente as desigualdades regionais
do país. A Bahia está entre os cinco estados onde se situa
metade dos analfabetos do país na distribuição total de
analfabetos absolutos. E, apesar de ser, dentre eles, o
estado que mais possui escolas, apresenta o menor
percentual de escolas com bibliotecas: 7,06%, como foi
citado pelo jornal A Tarde (LIVRO, 2005).
Em que pesem os problemas de analfabetismo, o baixo
índice de leitura e as discussões sobre o futuro do livro,
este é ainda considerado “[...] o mais poderoso
instrumento do saber jamais inventado pelos homens
[...]” (CROPANI, 2004). Os autores da Lei nº 10.753,
conhecida como a “Lei do Livro” de 30 de outubro de
2003 e que institui a Política Nacional do Livro, definiram
o livro como “o meio principal e insubstituível (grifo
nosso) da difusão da cultura e transmissão do
conhecimento, do fomento à pesquisa social e científica,
da conservação do patrimônio nacional, da
transformação e aperfeiçoamento social e da melhoria
da qualidade de vida” (BRASIL, 2003).
Convivendo com outros meios eletrônicos de
armazenamento e acesso à informação, o conhecimento
que circula na sociedade ainda tem no livro o seu principal
meio e nas bibliotecas o local para a guarda do acervo e
da memória de um povo. Segundo Eco, “as bibliotecas,
ao longo dos séculos, têm sido o meio mais importante
de conservar nosso saber coletivo. Foram e são ainda
uma espécie de cérebro universal onde podemos reaver o
que esquecemos e o que ainda não sabemos” (2003, p.2).
Apesar de saber a “fórmula” para fazer circular a
informação inclusive com as novas tecnologias que
facilitam o acesso à informação, a questão da leitura não
está firmada. Não basta ter acesso, é fundamental que, ao
longo da sua formação escolar, o indivíduo seja estimulado
à prática da leitura. Caso contrário, o livro não cumpre
sua função, como questiona Chartier (1998, p. 154),
[...] um livro existe sem leitor? Ele pode existir como
objeto, mas sem leitor, o texto do qual ele é portador
é apenas virtual. Será que o mundo do texto existe
quando não há ninguém para dele se apossar, para
inscrevê-lo na memória ou transformá-lo em
experiência?
Nesse sentido, acrescenta-se que, se o indivíduo não
incorpora a prática de leitura, não desenvolve de forma
satisfatória as habilidades necessárias ao uso do
conhecimento para poder entender, compreender e
apreender. De acordo com a American Library
Association (1989),
[…] Para ser competente em informação, uma pessoa
deve ter habilidade para reconhecer quando a
informação é necessária e ter a capacidade para
localizar, avaliar e suprir efetivamente a necessidade
de informação. Para produzir tal cidadão será
necessário que escolas e faculdades compreendam e
integrem o conceito de information literacy
(competência em informação) nos seus programas de
aprendizagem e que elas desempenhem um papel de
liderança na preparação dos indivíduos e instituições
para tirar vantagem das oportunidades inerentes à
sociedade da informação. Finalmente, pessoas com
competência em informação são aquelas as quais
aprenderam a aprender. […].
Para Cropani (1998), citado por Barros (2005), baseado
em estudos globais encomendados pela Unesco, os fatores
críticos que fortalecem o estabelecimento das práticas
de leitura de um povo ou mesmo de um indivíduo são os
seguintes: ter nascido em uma família de leitores; ter
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passado a juventude em um sistema escolar preocupado
com o estabelecimento da prática de leitura; o preço do
livro e o valor simbólico que a população atribui ao livro.
Dadas essas pré-condições, verifica-se que expressiva
parcela da população não possui condições de desenvolver
a prática leitora. Embora a escola seja um espaço adequado
para o contato do leitor com essa prática, observa-se que
o ambiente escolar não tem sido explorado adequadamente
para atingir a meta de formar leitores. Essa questão
é mais grave nas nações com altos índices de cidadãos
não-alfabetizados, entre as quais se inclui o Brasil.
Quanto aos estudantes do 3º grau, a maioria ingressa na
universidade sem habilidades leitoras amadurecidas. Isso
fica mais acentuado na cultura de pré-vestibular, já que o
ensino médio tem se voltado quase exclusivamente para
facilitar o acesso à universidade. O material didático
básico utilizado pelos estudantes nesse período é de
conteúdo reducionista. Como exemplo, os módulos e
resumos de textos de literatura e de demais disciplinas.
Os próprios cursinhos e escolas reproduzem esses
materiais didáticos, que são compilações de várias obras,
raramente citadas ou referenciadas. Soma-se, a esse
quadro, o fato de a relação do estudante com os livros
estar sendo fragilizada pelo surgimento de novos suportes
de informação propiciados pelo advento das tecnologias
de informação e comunicação. A atual sociedade apóiase
cada vez mais na cultura digital, o que também traz
implicações para a indústria editorial. Segundo Freitas e
Silva (1998, p. 87),
Por um lado, o professor universitário constata que a
leitura decodificação [...] não é suficiente para que o
aluno possa fazer, via texto, o nível de intermediação
necessário na construção do seu conhecimento. Essa
leitura é quase sempre classificada como “ingênua”,
“pobre”. Por outro lado, os professores universitários,
inclusive os de língua e literatura, se eximem da tarefa
de lidar com o ensino da leitura, promovendo uma
espécie de adiamento às avessas do problema, ou seja,
procrastina-se a responsabilidade com a “empreitada”
aos graus anteriores: responsabilidade com o ensino
da leitura cabe [...] aos professores de português do 1º
e 2º graus. Assim, o ensino da leitura na escola assume
o papel de verdadeira “batata quente”: ninguém quer
segurar o encargo e a questão é arremessada de mão
em mão num sucessivo adiamento de
responsabilidade.
Um fato a ser considerado é o baixo poder aquisitivo da
população e o conseqüente obstáculo à aquisição de bens
culturais, que contribui para que o livro seja tido como
artigo de luxo. Pesquisa encomendada pelo Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
(BNDES) revelou, no seu relatório final, o seguinte dado:
“O PIB brasileiro apresentou um crescimento de 16%
entre 1995 e 2003, enquanto no mesmo período o
faturamento declarado pelas editoras teve uma queda de
48%” (EARP, 2005, p.29 e 30). Dessa forma, fica claro
que a indústria editorial não contribuiu para o aumento
do PIB. Altbach (1997), citado por Oddone (1998, p.
30), diz que:
[...] A atividade editorial tem uma importância que
ultrapassa seu limitado papel econômico, porque ela
é essencial à vida cultural, científica e educação das
nações. [...] A produção de livros - que reflete de
maneira direta a cultura, a história e os interesses de
uma nação ou de um povo – é algo que não pode ser
transferido a terceiros. [...] Essa é uma parte vital de
uma cultura. Nesse sentido, a atividade editorial é
diferente, merecendo consideração especial. [...].
Transformar o Brasil em um país de leitores não é tarefa
fácil, sobretudo no contexto da sociedade da informação,
no qual novos suportes informacionais direcionam as
políticas não apenas para as práticas leitoras e para a
alfabetização cidadã, mas principalmente para o domínio
das novas tecnologias, muitas vezes distantes da
formação do cidadão leitor e apenas instrumentalizadoras
de habilidades primárias que têm como objetivo incluir
o cidadão nessa sociedade. Para Barros (2005, p. 3),
desde que a indústria editorial se implantou no Brasil,
no início do século XIX, sempre houve políticas públicas
voltadas para o livro, o que tem variado é o caráter
[...] que transitaram entre o controle, a repressão, a
distribuição gratuita, o incentivo à leitura [...].
A falta de continuidade dessas políticas e o pouco
envolvimento da sociedade civil e demais atores sociais
contribuíram para que o país chegasse ao século XXI com
uma média de leitura por ano equivalente a 1,8 livro por
habitante, segundo dados da CBL.
POLÍTICAS PÚBLICAS NO BRASIL
Uma política pública reflete a vontade de diferentes
setores da sociedade em avançar para uma determinada
direção e representa uma articulação coerente de medidas
para transformar uma situação. Sua eficácia se mede por
sua sustentabilidade e sua coerência interna, que faz com
que nos distintos setores envolvidos tenha repercussão
positiva. Uma política pública permite garantir que os
problemas não serão crônicos e idênticos aos que sempre
existiram (GOLDIN, 2003, p.163).
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Políticas públicas para o livro, leitura e biblioteca
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Nessa perspectiva de política pública, o Brasil ainda está
distante, notadamente, na área cultural e educacional.
Historicamente, a política cultural adotada pelo país a
partir do século XIX foi protecionista, uma vez que
exercia o mecenato junto aos artistas que viviam na Corte
e promovia viagens à Europa para jovens talentosos que
tinham seus projetos financiados pelo governo, além de
postos diplomáticos e políticos para poetas e romancistas
em uma verdadeira troca de favores (LINDOSO, 2004, p.
24). Essa situação perdurou durante todo o Império e
somente foi alterada no período denominado República
Velha, graças à expansão do sistema educacional e à
autonomia alcançada em algumas áreas da produção
artística.
Na década de 1930, quando o cenário no Brasil era de
mudanças econômicas, políticas e culturais, a partir de
dois acontecimentos importantes – a Revolução de 30 e
o Estado Novo –, foi institucionalizado o primeiro órgão
para efetivar “[...] políticas de bibliotecas públicas,
mecanismos institucionais que facultavam o
compartilhamento, a difusão e o uso da informação
disponível para as comunidades” (OLIVEIRA, 1994,
p.17). Em pleno governo ditatorial de Getúlio Vargas,
por meio do Decreto-lei nº 93, de 21 de dezembro de
1937, criou-se o Instituto Nacional do Livro (INL), por
iniciativa do ministro da Educação, Gustavo Capanema,
com as seguintes competências: organizar e publicar a
Enciclopédia Brasileira e o Dicionário da Língua Nacional,
editar obras de interesse para a cultura nacional, criar
bibliotecas públicas e estimular o mercado editorial
mediante promoção de medidas para aumentar, melhorar
e baratear a edição de livros no país (OLIVEIRA, 1994,
p.43). A origem do INL resultou da incorporação das
funções do Instituto Cairu, criado no mesmo ano para
produzir a Enciclopédia Brasileira, e o Plano Nacional
de Educação (PNE). Conforme explica Silva, o Plano foi
um documento
[...] que consolidava os intensos debates, que
ocorreram nos anos 20 e 30, sobre o sistema
educacional brasileiro. Debates objetivando ampliar
o acesso da população à educação, definir as
responsabilidades da União, estados e municípios em
assuntos educacionais, propor currículos e métodos
de ensino, enfim, dotar o país de uma política nacional
de educação, até então inexistente (SILVA, 1992,
p.20).
Em 1973, o Instituto é reestruturado por meio do Decreto
nº 72.614, de 15 de agosto, e nas suas atribuições passa de
“editor” para “promotor de publicações” não apenas de
interesse a cultura nacional, mas também de interesse
educacional, científico e cultural (OITICICA, 1997,
p. 6). Esse foi o período em que o INL mais beneficiou a
iniciativa privada, transferindo a sua linha editorial para
editoras comerciais estabelecidas.
A avaliação da atuação do INL nos seus 52 anos de
existência, de 1937 a 1989, é um tanto quanto polêmica.
No que diz respeito ao mercado livreiro do país, o instituto
buscou
[...] contribuir para a criação de uma cultura nacional
[...] centrou seu trabalho no livro, como instrumento
de estabilidade social e transmissão desta cultura
(OLIVEIRA, 1994, p. 43).
No entanto, na análise de Miceli,
estas competências do instituto, agregadas às políticas
de cooptação de intelectuais para o trabalho em
organismos governamentais e de censura da atividade
intelectual, permitiram ao Estado Novo controlar
todo o ciclo de produção cultural impressa, desde a
elaboração, passando pela editoração e
comercialização, até sua divulgação (MICELI, 1979,
p.159).
Para Oiticica, a transferência da linha editorial do INL
para o setor privado não privilegiou a difusão do livro
nem o estímulo à leitura, questão que se manteve
insolúvel,
[...] o alvo imediato [...] não era necessariamente o
público, mas a iniciativa privada, que além da
exclusividade do mercado e da subvenção de seus
custos, ganhava ainda o redimensionamento das
compras de parte da edição pelo Estado [...]
(OTICICA, 1997, p.7).
Ficou patente que a simples oferta de livros não garantiu
a formação de práticas de leitura. Esta é uma crítica que
se faz às ações do instituto, que deixou de lado
mecanismos de desenvolvimento e formação leitora que
[...] deveriam ser ativados nas comunidades,
concentrando sua ação na mera distribuição de obras
como instrumento de enraizamento da biblioteca na
sociedade (OLIVEIRA, 1994, p.71).
A intervenção do Estado, pelo INL, na qualidade da
difusão da informação pelos livros que comporiam os
acervos das bibliotecas públicas foi bastante clara,
sobretudo no período pós-64
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[...] sob o regime de co-edição a partir da Portaria nº
35, de 11/3/70, o INL censurou diversas propostas de
publicação através de pareceres que introjetavam a
repressão do período (OITICICA, 1997, p. 2).
Ao mesmo tempo, o INL não conseguiu implementar a
criação da Enciclopédia Brasileira e o Dicionário da
Língua Nacional, que constava do decreto de sua criação.
Considerando o quadro político, econômico e cultural
daquele período, as ações do INL não devem ser tomadas
apenas nos seus pontos negativos. Sua contribuição para
o desenvolvimento da biblioteca pública no Brasil foi
expressiva, bem como no desenvolvimento da
biblioteconomia para a formação de recursos humanos
especializados. Em 5 de novembro de 1987, por meio da
Lei nº 7.624, o Instituto Nacional do Livro e a Biblioteca
Nacional passaram a integrar a Fundação Nacional Pró-
Leitura, que em 12 de abril de 1990 foi extinta, pela Lei
nº 8.029, sendo suas atribuições transferidas para a
Fundação Biblioteca Nacional.
SITUAÇÃO ATUAL DAS POLÍTICAS PÚBLICAS
A partir da década de 80, após o período ditatorial,
algumas políticas foram empreendidas para a área
cultural, com as chamadas leis de incentivo, como foi a
Lei nº 7.505 de 20 de junho de 1986 – Lei Sarney –
criada pelo presidente José Sarney e substituída em 1991
pela Lei nº 8 313 – Lei Rouanet – elaborada pelo
diplomata, ensaísta e cientista político Sérgio Paulo
Rouanet, secretário de Cultura da Presidência (1991/
1992) no Governo Fernando Collor.
A Lei Rouanet engloba todo o setor cultural e instituiu o
Programa Nacional de Apoio à Cultura (Pronac), com a
finalidade de captar e canalizar recursos para a cultura, e
a Comissão Nacional de Incentivo a Cultura (CNIC),
responsável pela análise dos projetos que se candidatam
a receber incentivos da Lei. Ficou estabelecido que o
Pronac captará recursos por meio do Fundo Nacional de
Cultura (FNC), anteriormente denominado Fundo de
Promoção Cultura, Fundo de Investimento Cultural e
Artístico (Ficart) e outros incentivos a projetos culturais.
Tais incentivos poderão ser concedidos por pessoa
jurídica ou pessoa física, as quais utilizarão descontos do
imposto de renda até o limite de 4% do valor devido para
empresa e de 6% para pessoa física. Quanto aos recursos
do FNC, serão captados das empresas e outros setores
previstos na lei, dentre os quais 1% da arrecadação dos
fundos de investimentos regionais e 3% oriundos das
loterias federais.
Nas suas disposições preliminares, a Lei Rouanet avança
em relação às práticas intervencionistas do Estado na
produção cultural e prevê a promoção da regionalização
da produção cultural, o livre acesso às fontes de cultura,
a valorização das manifestações culturais e de seus
criadores, a preservação dos bens materiais e imateriais
do patrimônio cultural e histórico brasileiro; o estímulo
à produção e difusão de bens culturais de valor universal
formadores e informadores de conhecimento, cultura e
memória e prioridade ao produto cultural nacional.
Bastante abrangente nas suas disposições, cita
especificamente projetos na área editorial no Capítulo
III, quando se refere ao uso do Fundo de Investimento
Cultural e Artístico. No item III, trata da “edição
comercial de obras relativas às ciências, às letras e às
artes, bem como de obras de referência e outras de cunho
cultural” e, no Capítulo IV, sobre incentivo a projetos
culturais, cita, no parágrafo terceiro, os segmentos a serem
beneficiados: no item b, consta “livros de valor artístico,
literário ou humanístico” (BRASIL, 1991).
Embora bastante abrangente nas suas ações, a Lei Rouanet
recebe várias críticas quanto à sua eficácia e à
concentração das ações nas regiões Sudeste e Sul, onde
estão situadas as grandes empresas que têm, de fato,
interesse em financiar projetos culturais. Na área
editorial, quase que exclusivamente livros de arte são
contemplados e, mais recentemente, projetos de livros
em Braille. Segundo Dória (2003, p. 1),
[...] não há muita transparência nos dados que
permitiriam julgar a eficácia da Lei Rouanet, mas
também falta às análises uma clara consciência do
sentido democrático que deveria perseguir uma lei
que destina recursos do tesouro para atividades
públicas. Ora, num país onde as leis costumam
“pegar” ou “não pegar”, a Lei Rouanet inaugura uma
nova modalidade: a das leis que “pegam” e fracassam.
Ela não fracassou por falta de adesão, mas por excesso
de adesão interesseira, contemplando apenas a
perspectiva dos ganhos econômico-financeiros que
promete.
Ao completar 15 anos, em 2006, a Lei Rouanet continua
provocando polêmica, mesmo após um ano e meio de
discussões organizadas pelo Ministério da Cultura em
todo o país, que resultaram em um novo decreto que
regulamenta a Lei Federal de Incentivo à Cultura.
As mudanças, para alguns, tímidas, para outros
prejudiciais aos denominados captadores de recursos, não
alteram os percentuais de renúncia fiscal, o que deverá
acontecer no texto reformulado da lei que brevemente
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Políticas públicas para o livro, leitura e biblioteca
188
tramitará no Congresso Nacional. Na opinião de Paulo
Oliver, conselheiro da área de humanidades da CNIC do
Ministério da Cultura e vice-presidente do Instituto
Interamericano de Direito Autoral,
[...] a noiva é a mesma, só mudou o vestido [...] o que
deveria mudar é a ótica de análise dos processos. Há
projetos bons, mas às vezes não são bem
fundamentados (O INCENTIVO, 2006).
Outras políticas para o setor surgiram expressas na forma
de leis mais específicas, como é o caso da Lei do Direito
Autoral – Lei 9.610/98 – e a denominada Política
Nacional do Livro – Lei 10.753/2003 –, sendo esta voltada
para as questões do livro; por meio dela instituiu-se “[...]
o instrumento legal que autoriza o Poder Executivo criar
e executar projetos de acesso ao livro e incentivo à leitura”
(BRASIL, 2005). As políticas também se manifestaram
por meio de programas governamentais, como Próleitura,
Programa Nacional de Incentivo à Leitura
(Proler), Fome do Livro e Vivaleitura, assim como
programas mais específicos voltados para o livro didático
e a biblioteca escolar – Programa Nacional de Biblioteca
Escolar (PNBE) e o Programa Nacional de Livro Didático
(PNLD).
Uma atualização da Lei do Direito Autoral ocorreu em
19 de fevereiro de 1998, e entrou em vigor a Lei 9.610/
98, a qual ampliou os suportes possíveis para difusão da
informação, englobando as novas tecnologias. Baseia-se
em convenções internacionais assinadas pelo Brasil. No
capítulo I, Título IV, trata especificamente da edição, e é
enfática na relação autor / editor, no que se refere à
reprodução, conforme tratado no capítulo 2.
Em 30 de outubro de 2003, foi sancionada a Lei nº 10.753,
a “Lei do Livro” proposta pelo senador José Sarney e que
instituiu a Política Nacional do Livro. Esta lei trata de
questões pontuais relacionadas ao livro, desde a política
nacional para a difusão e a leitura, até a editoração,
distribuição e comercialização. A sua regulamentação
[...] deverá apresentar o Plano Nacional do Livro e
Leitura, de caráter trienal, e formas possíveis para a
organização e estruturas capazes de formular,
coordenar e executar ações dessa política setorial
(CSLL).
O Artigo 7º do capítulo III dessa lei prevê o
estabelecimento de linhas de crédito específicas para o
financiamento das editoras e distribuidoras de livro. Essas
linhas de crédito tornaram-se disponíveis, em 2005, por
meio do Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social (BNDES), que, após estudo
encomendado ao Grupo de Pesquisa em Economia do
Entretenimento do Instituto de Economia da
Universidade Federal do Rio de Janeiro, intitulado
“O desenvolvimento da cadeia produtiva do livro no
Brasil em perspectiva internacional comparada:
propostas de ações públicas e privadas na construção de
uma agenda de transformação setorial”, estabeleceu
parâmetros e normas para a liberação de crédito para o
setor produtivo do livro.
A Lei do Livro não é algo novo. Entre 1974 e 1976, um
grupo de editores e livreiros representando a CBL e o
SNEL preparou um anteprojeto da lei, que, quando
concluído, foi encaminhado ao ministro da Educação,
Ney Braga, durante o governo do presidente Geisel, que
não deu a devida importância ao documento
(HALLEWELL, 2005, p. 597).
O Plano Nacional do Livro e da Leitura (PNLL) foi
apresentado pelos ministros da Cultura e da Educação,
no dia 13 de maio de 2006, no encerramento do FÓRUM
– PNLL/Vivaleitura 2006/2008. No documento
apresentado, é dito que o PNLL
[...] é uma ação liderada pelo governo federal para
converter esse tema em política pública mediante a
concentração e articulação dos esforços desenvolvidos
pelos diversos atores sociais: Estado, universidade,
setor privado e demais organizações da sociedade civil
que formam o chamado terceiro setor. Tem como
objetivo central melhorar a realidade da leitura no
país e, por isso, é construído e se desenvolve por meio
de um processo que transcende a imediatez (PNLL,
2006, p.5).
O PNLL possui quatro eixos estratégicos, vinte linhas
de ação e um calendário anual de eventos. Os quatro
eixos são os seguintes: democratização do acesso;
fomento à leitura e à formação; valorização da leitura e
da comunicação; apoio à economia do livro. No primeiro
eixo – democratização do acesso –, contém uma referência
à “melhoria do acesso ao livro e a outras formas de cultura
letrada” e “incorporação e uso de novas tecnologias”
(2006 p.6). Essa ressalva é importante, uma vez que, no
Capítulo II – DO LIVRO, na Lei nº 10.753, o livro não
foi pensado e definido dentro dos parâmetros da sociedade
da informação e dos novos suportes possíveis, salvo
no item VII, que trata de livros em meio digital para “uso
exclusivo de deficientes visuais” (BRASIL, 2003).
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Flávia Goullart Mota Garcia Rosa / Nanci Oddone
189
Um longo caminho foi percorrido até se chegar ao PNLL.
No início do atual governo, a Secretaria do Livro e da
Leitura (SNLL) foi extinta, e suas atribuições passaram à
Fundação Biblioteca Nacional (FBN). Antes de ser
extinta, a SNLL, responsável pela política do livro e da
leitura no país, teve como secretário o poeta baiano Wally
Salmão. Com a morte de Salomão em maio de 2003, a
secretaria foi extinta, obedecendo a projeto do próprio
secretário. Em 2004, é criado o Programa Fome do Livro,
denominação bastante emblemática do populismo do
governo, ligado à FBN, que resultou de
[...] parte dos esforços do governo federal na tarefa de
se construir uma política pública nacional para o
livro, a leitura e a biblioteca pública no Brasil
(BIBLIOTECA NACIONAL, 2005).
Assumiu sua coordenação Galeno Amorim, ex-secretário
de cultura de Ribeirão Preto, primeiro município
brasileiro a implantar uma lei do livro, Lei nº 9.353, de 5
de outubro de 2001.
Em julho de 2004, realizou-se em Ribeirão Preto o
I Encontro Preparatório para o Fórum Nacional da
Leitura, coordenado por Galeno Amorim, cujo objetivo
era apresentar o Programa Fome do Livro e discuti-lo
com os vários segmentos ligados ao livro e à leitura. Esse
programa foi debatido em centenas de cidades brasileiras
no decorrer do ano. A receptividade do programa
aparentemente não convenceu o então presidente da
FBN, Pedro Côrrea do Lago, e o ministro da Cultura,
Gilberto Gil, tomou a seguinte medida “[...] tirou a
coordenação do Programa Fome do Livro/ Plano
Nacional do Livro e da Leitura de sob as asas da Fundação
Biblioteca Nacional” (WASSERMAN, 2005).
De fato, a missão da FBN é ser
depositária do patrimônio bibliográfico e documental
do Brasil, [...] tem o objetivo de garantir a todos os
cidadãos, desta e das futuras gerações, o acesso a toda
memória cultural que integra seu acervo
(BIBLIOTECA NACIONAL, 2005).
Cabe à Fundação cuidar do acervo, preservá-lo, recuperálo
e disponibilizá-lo; políticas de leitura cabem a outras
instâncias. Em 2002, a Câmara Brasileira do Livro
entregou um documento aos candidatos à Presidência
da República, no qual alertava sobre a missão da
Biblioteca Nacional, a qual deveria ser
[...] focar o importante trabalho de preservação de
seu valioso acervo e deixar a política do livro e da
leitura para um órgão independente, capaz de dialogar
com várias instâncias do governo para que o assunto
deixasse de ser tratado como “perfumaria cultural”
(WASSERMANN, 2005).
O ano de 2004 se encerrou de forma bastante otimista
para os que fazem parte da denominada cadeia produtiva
do livro. Em 21 de dezembro, o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva sancionou a lei de desoneração fiscal, que
isenta “[...] a produção, comercialização e importação de
livros do pagamento do PIS/Cofins/Pasep, o que varia
entre 3,655 a 9,25%” (SCORTECCI; PERFETTI. 2006,
p. 29) Desse modo, editores, livreiros e distribuidores
não mais pagarão qualquer tipo de taxa ou imposto sobre
operações com livro, gozando, pois, de imunidade
tributária, conforme prevê a Constituição, na Seção II –
Das Limitações do Poder de Tributar, Art. 150, inciso VI,
alínea d (BRASIL, 2005). A desoneração é vista por alguns
de forma bastante otimista, sobretudo pelo próprio
governo, como garantia de uma redução no preço do livro,
fato que não está assegurado. O Ministério da Cultura
prevê
[...] que a lei vai causar dois tipos de impactos
imediatos no mercado editorial brasileiro. Um deles
é a redução dos preços nos livros, prevista para ocorrer
já a partir deste mês e que deve chegar a 10% em três
anos. A outra conseqüência é a retomada dos
investimentos por parte de editores e livrarias para
lançamentos de novos selos editoriais e a abertura de
pontos de venda ainda no primeiro semestre deste
ano (SCORTECCI; PERFETTI; 2006, p. 29).
A contrapartida dos empresários do livro à desoneração
fiscal é oferecer “espontaneamente” 1% sobre o resultado
da venda de livros para criar o Fundo Pró-Leitura.
A expectativa do Fundo é gerar recursos da ordem de
R$ 45 milhões anuais a serem utilizados em projetos e
programas para fomentar a leitura, as bibliotecas e
conseqüentemente a própria indústria editorial. Em
outubro de 2005, cinco entidades do livro – Associação
Brasileira de Difusão do Livro (ABDL), Associação
Brasileira de Editores e Livreiros (Abrelivros), Associação
Nacional de Livrarias (ANL), Sindicato Nacional de
Editores de Livros (SNEL) e Câmara Brasileira do Livro
(CBL) – assinaram a ata de criação do Fundo. Os primeiros
recursos do Fundo foram utilizados em uma campanha
de incentivo à leitura, com a participação em caráter
voluntário dos atores “globais” Reynaldo Gianecchini e
Cleo Pires. O objetivo da campanha era mostrar o livro
como fonte de lazer e entretenimento; no entanto a
sofisticação do cenário dos clips continua reforçando a
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Políticas públicas para o livro, leitura e biblioteca
190
idéia do livro como um lazer de elite. A escolha de atores
que não têm uma trajetória profissional consolidada e
popularizada junto às camadas sociais que seriam o foco
da campanha, assim como os livros apresentados como
leituras desses atores desconhecidos do grande público,
faz com que os clips não fixem a imagem de popularizar a
leitura.
Na mesma solenidade de assinatura da Lei de
Desoneração, foi lançado o calendário do Ano Ibero-
Americano do Livro e da Leitura (Ilimita), que no Brasil
recebeu a denominação de Vivaleitura. Coordenado pela
Organização dos Estados Ibero-Americanos (OEI),
Centro Regional para o Fomento do Livro na América
Latina e Caribe (Cerlalc), Unesco e governos dos países
da região, esse programa teve como objetivo gerar
políticas que contribuíssem para uma mudança de
cenário para o livro e a leitura nos países iberoamericanos,
em uma tentativa de reverter os baixos
índices de leitura dos seus cidadãos.O Ilimita foi
deliberado na XIII Reunião Anual de Cúpula Ibero-
Americana dos Chefes de Estado e de Governo, realizada
em novembro de 2003, em Santa Cruz de La Sierra, na
Bolívia (CERLALC, 2004).
No Brasil, o Ano Ibero-Americano do Livro e da Leitura/
Vivaleitura realizou inúmeras ações, tais como identificar
e apoiar projetos já existentes, criar medidas para
promoção do livro e da leitura, articular com todos os
segmentos da sociedade – instituições de ensino,
iniciativa privada, representantes do mercado editorial,
instituições não-governamentais. Essas ações
incentivaram a criação da Câmara Setorial do Livro e
Leitura (BRASIL, 2005), que faz parte dos órgãos
consultivos do Sistema Minc e será acolhida pelo
Conselho Nacional de Política Cultural (CNPC).
A Câmara Setorial do Livro e Leitura é composta por 26
membros, desde representante dos Ministérios da Cultura
e da Educação, como das diversas entidades do segmento
livreiro, dos escritores, dos bibliotecários, além de
representantes das cinco regiões do país. A instalação e a
posse do CSLL ocorreram em dezembro de 2005, e na
oportunidade foi discutida e elaborada a proposta do
PNLL, lançada em março de 2006. No momento, esse
plano passa por uma consulta pública disponível no site
www.pnll.gov.br.
O Plano, que esteve a cargo de Galeno Amorim até abril
de 2006, está sob a coordenação de José Castilho Marques
Neto e contará com um comitê executivo a ser instituído
pelos ministérios da Cultura e da Educação. Segundo
Castilho, a Coordenação Geral do PNLL poderá ser
instalada tanto no Ministério da Cultura quanto na
Biblioteca Nacional, porém o Comitê Executivo será o
interlocutor do PNLL e dos participantes do universo
editorial, para que haja maior dinâmica (PNLL, 2006).
PROGRAMAS GOVERNAMENTAIS PARA O
LIVRO DIDÁTICO E PARA LEITURA
Sob a tutela do governo federal, por intermédio do MEC,
existem ainda os programas específicos voltados para
aquisição do livro didático para as escolas públicas –
Programa Nacional de Livro Didático (PNLD), Programa
Nacional de Livro Didático para o Ensino Médio
(PNLEM) – e para as bibliotecas escolares – Programa
Nacional de Biblioteca Escolar (PNBE). Essas aquisições,
pelo volume de recursos que envolvem, sempre geraram
uma disputa entre as editoras de livros didáticos e
paradidáticos nacionais e, nos últimos anos, a cobiça das
editoras estrangeiras que se instalaram no Brasil.
Os programas governamentais de distribuição de livros
didáticos se iniciaram em 1938, com o Decreto-Lei nº
1006, que, sob a coordenação do MEC, instituiu a
Comissão Nacional do Livro Didático (CNLD).
A finalidade dessa comissão era estabelecer condições
para produção, importação e utilização do livro didático.
Em 1966, foi criada a Comissão do Livro Técnico e do
Livro Didático (Colted), com o objetivo de coordenar as
ações referentes à produção, edição e distribuição do livro
didático. Em 1971, essa atribuição passou para o INL,
por meio do Programa do Livro Didático para o Ensino
Fundamental (Plidef) (BRASIL, 2004).
Em 1976, a Fundação Nacional do Material Escolar
(Fename) foi criada e assumiu, além das atribuições
referentes ao material escolar, a execução do programa
do livro didático. Até a implantação do PNLD e do
PNLEM, várias outras denominações e siglas foram
substituindo os programas existentes. Em 1983, a
Fundação de Assistência ao Estudante (FAE) assumiu as
atribuições da Fename. No ano de 1985, com a edição do
Decreto nº 91.542, de 19/8/85, o Plidef foi substituído
pelo Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) e
ocorreram algumas mudanças: indicação dos livros pelos
professores, extinção do livro descartável para permitir
a sua reutilização, aperfeiçoamento das especificações
técnicas para produção dos livros, ampliação da oferta
para os alunos de todas as séries e, finalmente, a
participação dos professores no processo de escolha dos
livros e o fim da participação financeira dos estados.
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Flávia Goullart Mota Garcia Rosa / Nanci Oddone
191
Atualmente, o Fundo Nacional de Desenvolvimento da
Educação/FNDE mantém, com recursos financeiros do
Orçamento Geral da União e da arrecadação do salárioeducação,
os programas voltados para o livro didático -
PNLD e PNLEM. Adotou-se um processo de análise para
a aquisição dos livros a serem distribuídos e, a cada três
anos, é lançado um edital com os critérios estabelecidos
a fim de que os detentores dos direitos autorais inscrevam
as obras didáticas. O processo de avaliação conta com a
participação das universidades, uma vez que envolve
livros de todas as disciplinas do currículo da educação
básica. Ao final do processo de avaliação, é elaborado o
Guia dos Livros Didáticos contendo resumo das obras
para que os professores das escolas procedam à escolha
dos livros a serem adotados. A principal crítica que se faz
a esses programas voltados para o livro didático é a
seguinte:
A acentuada centralização da participação de um
grupo de editores no PNLD coloca em questão as
perspectivas de descentralização do programa. Na
medida em que, por sua posição no mercado, dispõe
de mecanismos mais eficientes de divulgação, de
marketing [...] alcançam grande poder de penetração e
circulação entre seus “clientes”. Essa situação,
associada a outros fatores, condiciona, em grande
medida, a escolha feita pelo professor (HÖFLING,
2000, p.9)
O PNBE foi criado em 1997, por meio da Portaria
Ministerial nº 584, de 28 de abril, e tem como objetivo
possibilitar o acesso dos alunos e professores à
informação, contribuindo para fomentar a prática da
leitura e formação dos professores das escolas de ensino
fundamental. Por intermédio desse programa, foram
constituídos os acervos das bibliotecas escolares
formados por obras de referência, literatura e de apoio à
formação dos professores. Esse acervo passa por um
processo de escolha e seleção, mediante edital
previamente divulgado (BRASIL, 2005).
Quanto aos programas voltados às práticas leitoras, o
Pró-Leitura foi criado em 1992 por iniciativa da
Secretaria de Educação Básica – MEC em parceria com
as secretarias de Educação dos estados, universidades e
Embaixada da França. Ele objetivou a formação
continuada, oportunizando ao professor a discussão
teórica e ampliação do repertório de vivências de leitura
e escrita, além de constituir estratégias de reflexão e de
intervenção nas práticas pedagógicas. No atual site do
MEC, esse programa não está mais acessível. Na página
da Secretaria de Educação Básica, faz-se referência à
Política de Formação de Professores e Alunos Leitores,
cujo objetivo é similar ao Pró-Leitura.
Voltado para formação de leitores nos espaços sociais, o
Proler surgiu em 1992, quando foi institucionalizado por
meio do Decreto nº 519 de 13 de maio, sob a coordenação
do teatrólogo Francisco Gregório e a professora Eliana
Yunes. Segundo os coordenadores, o Proler
[...] já tinha como pressuposto o não-estabelecimento
de planos verticalizados e acabados para implantação.
Pelo contrário, teorias e práticas vêm constantemente
sendo repensadas e hoje o Programa continua
adequando-se em resposta aos indicadores sinalizados
pela sociedade (UNIVERSIDADE FEDERAL DO
ESPÍRITO SANTO, 2003).
Atualmente ele está vinculado à Fundação Biblioteca
Nacional e tem como sede a Casa da Leitura, no Rio de
Janeiro, que dispõe, dentre outras coisas, de centro de
referência e documentação para jovens e duas bibliotecas:
infantil e juvenil. Sua atuação está vinculada a uma
política de leitura e busca colaborar para qualificar as
relações sociais, mediante a formação de leitores
conscientes e críticos dentro do seu contexto social. Em
meados de 1996, a nova direção da Fundação Biblioteca
Nacional, por meio da Comissão Nacional, promoveu a
integração do Proler com o MEC e outras instituições
com experiência de leitura, tais como Fundação Nacional
do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ), Associação de Leitura
do Brasil (ALB), Programa de Alfabetização e Leitura
(Proale/UFF) e Ministério da Educação (MEC).
AVANÇOS
As discussões em favor de políticas nacionais de leitura,
como foi visto, acontecem há alguns anos. Em 1992, por
exemplo, foi realizada no Rio de Janeiro, promovida pelo
Cerlalc e a Fundação Biblioteca Nacional, a Reunião
Internacional de Políticas Nacionais de Leitura para
América Latina e Caribe. Nessa reunião, a leitura foi
defendida como responsabilidade de todos e
recomendava-se que os países participantes criassem
programas de efeitos multiplicadores cujo objetivo era
atingir maior número de cidadãos – crianças, jovens e
adultos – na tentativa de criar condições favoráveis ao
desenvolvimento da capacidade leitora. Sobre o Estado
e as políticas de leitura, foi dito que
É função primordial do Estado ocupar-se dos direitos
básicos da população e de seu desenvolvimento
econômico e social. A leitura constitui-se num desses
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Políticas públicas para o livro, leitura e biblioteca
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direitos e contribui para o desenvolvimento. O que
se pede ao Estado é a vontade política para articular,
estimular e apoiar experiências qualificadas
(REUNIÕES, 1994, p.16) (grifo nosso).
Na publicação que reúne os documentos das Reuniões
Internacionais de Políticas Nacionais de Leitura para
América Latina e Caribe, ocorridas entre 1992 e 1994,
verifica-se que muitas questões colocadas hoje não
diferem de 14 anos atrás. Faltou e falta vontade política
para avançar. Conforme divulgação do Instituto Paulo
Montenegro, o Brasil situa-se “[...] em último lugar numa
avaliação que mediu a capacidade de leitura em 32 países”
(A MELHOR, 2006).
A política pública do governo para o livro, leitura e
biblioteca que, desde 2003, a partir da Lei do Livro, tem
sido discutida e avaliada por todo o segmento da
denominada cadeia produtiva do livro e com a sociedade
em geral, precisa ser mais objetiva, a fim de se chegar a
ações concretas que de fato revertam os quadros atuais.
Observa-se que, dentre as políticas propostas, o ensino
superior não é contemplado. Sabe-se que a realidade do
estudante universitário é de baixa freqüência nas
bibliotecas e de leituras fragmentadas por meio de cópias
de livros. Embora vivendo na sociedade da informação,
o acesso a esta informação está abaixo do desejável.
A tecnologia faz parte do dia-a-dia de muitos estudantes,
mas está longe de ser utilizada para ampliar o
conhecimento mediante o acesso a portais confiáveis.
Artigo submetido em 27/10/2005 e aceito em 24/04/2007.
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SILVA, Suely Braga da. O Instituto Nacional do Livro e a institucionalização
de organismos culturais no Estado Novo (1937-1945): planos, idéias e
realizações. 1992. 154 f. Dissertação (Mestrado em Ciência da
Informação)- Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro,
1992.
WASSERMANN, Raul. Livros, leitura, desenvolvimento. O livro é
um importante fator de desenvolvimento econômico e social de uma
nação, uma verdade nem sempre lembrada?. Desafios do desenvolvimento,
Brasília, 01 jan. 2005. Disponível em: Edicoes/6/artigo13076-1.asp?o=s>. Acesso em: 12 abr. 2006.
UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO. Núcleo de
educação aberta e à distância. 2003. Apresenta arquivo de informes
sobre eventos promovidos e informações úteis à comunidade. Disponível
em: . Acesso em: 23 abr. 2006.
Ci. Inf., Brasília, v. 35, n. 3, p. 183-193, set./dez. 2006
Políticas públicas para o livro, leitura e biblioteca
Las bibliotecas escolares son una de las mejores herramientas para conseguir que los alumnos se aficionen a la lectura. Por eso, el Departamento de Educación financiará los proyectos de aquellos colegios e institutos públicos que quieran mejorar este equipamiento y convertirlo en un lugar atractivo para los alumnos e integrado dentro de los planes culturales del centro. Este proyecto recibirá una inversión máxima de 201.750 euros y los claustros de profesores interesados podrán pedir esta ayuda antes del 24 de septiembre.

Con esta iniciativa se pretende mejorar la organización de la biblioteca y la atención a los usuarios de la biblioteca, tanto a profesores como alumnos, padres y personal cercano al centro. Otro de los objetivos consiste en integrar el proyecto en las actuaciones que se desarrollen en el centro y fomenten la afición por la lectura, la escritura y enseñen a los alumnos a utilizar las fuentes de información.

Los profesores intentarán también incorporar las bibliotecas al aula y hacer que formen parte del proyecto educativo del colegio. Con la financiación de la DGA, se podrán también actualizar los fondos documentales de las bibliotecas y mejorar sus equipamientos. Se comprarán libros, revistas, partituras, grabaciones de vídeo, audio o juegos educativos y se instalarán accesos a internet y otros recursos para alumnos extranjeros o con alguna necesidad especial.

A la hora de valorar los proyectos, se tendrán en cuenta cinco parámetros. Los dos más importantes serán la calidad, coherencia y viabilidad del proyecto y el grado de implicación de los profesores y la comunidad educativa. Otros criterios fundamentales serán la utilización prevista de la biblioteca por los alumnos, la dotación y organización del servicio y el nivel de coordinación y colaboración que existe entre la biblioteca del centro y las bibliotecas públicas de la zona.

Con todo esto, Educación pretende cumplir uno de los objetivos del curriculum educativo aragonés, que persigue el fomento de la lectura. Además de la mejora de las bibliotecas, los niños de Primaria leerán en clase durante media hora a la semana.
Plan de mejora de las bibliotecas escolares para fomentar la lectura ( El Periódico de Aragón - 18/08/2007 )

domingo, agosto 12, 2007

O Seminário Prazer em Ler de Promoção da Leitura - Nos Caminhos da Literatura está organizado em torno de seis conferências e de cinco mesas de debates. Delas participarão, ao todo, 17 palestrantes, entre convidados do Brasil e exterior.



Dia 22/08/07, quarta-feira, das 8h30 às 17h 8h30 às 9h45
Credenciamento e entrega de materiais.

10h às 11h Sessão de abertura
Gisela Pinto Zincone - FNLIJ (Rio de Janeiro, Brasil)

Paulo Castro - Instituto C&A (Barueri, Brasil)

Alexandre Schneider - Secretaria Municipal de Educação de
São Paulo (São Paulo, Brasil)

11h às 12h30 Conferência 1 - Andar entre Livros: A Leitura Literária na Escola
Conferencista
Teresa Colomer
Universidade Autônoma de Barcelona (Barcelona, Espanha)



Presidente da mesa
Elizabeth D´Angelo Serra
FNLIJ (Rio de Janeiro, Brasil)

12h30 às 13h30 Almoço
13h45 às 15h30 Mesa de debates 1
Palestrantes
Angela Lago
Escritora e ilustradora (Belo Horizonte, Brasil)
O Prazer do Livro para o Leitor Iniciante

Graça Lima
Universidade Federal do Rio de Janeiro (Rio de Janeiro, Brasil)
A Leitura Imagética

Coordenação
Cris Eich
Ilustradora (São Paulo, Brazil)

15h30 às 16h Intervalo
16h às 17h30 Conferência 2 - Alguns Equívocos sobre Leitura Conferencista
Ana Maria Machado
Escritora e tradutora (Rio de Janeiro, Brasil)

Presidente da mesa
Alais Ávila
Instituto C&A (Barueri, Brasil)

17h30 Lançamento da obra Andar entre Livros: A Leitura Literária na Escola (Global), de Teresa Colomer
Dia 23/08/07, quinta-feira, das 9h às 16h30 9h às 10h30 Conferência 3 - A confirmar Conferencista
Xosé Antonio Neira Cruz
Escritor (Santiago de Compostela, Espanha)

Presidente da mesa
Áurea M. Alencar R. de Oliveira
Instituto C&A (Rio de Janeiro, Brasil)

10h30 às 12h Mesa de debates 2
Palestrantes

Luiz Percival Leme Britto
Universidade de Sorocaba (Sorocaba, Brasil)

Entretenimento ou Conhecimento - O que Faz a Literatura?


Daniel Munduruku
Escritor (Lorena, Brasil)

Literatura Indígena


Coordenação
Ísis Valéria Gomes
FNLIJ (Rio de Janeiro, Brasil)

12h às 13h Almoço

13h15 às 15h Mesa de debates 3
Palestrantes

Regina Zilberman
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Porto Alegre, Brasil)

O Ensino Médio e a Formação do Leitor


Marisa Lajolo
Universidade Presbiteriana Mackenzie (São Paulo, Brasil)

Leitura e Pesquisa nos Estudos Literários: O Caso de Monteiro Lobato


Laura Sandroni
FNLIJ (Rio de Janeiro, Brasil)

A década de 70 e a Renovação da Literatura Infantil e Juvenil


Coordenação
Ana Dourado
Instituto C&A (Brasília, Brasil)

15h às 15h30 Intervalo
15h30 às 17h Conferência 4 - Da Leitura da Palavra à Leitura de Mundo
Conferencista
Silvia Castrillón
Associação Colombiana de Leitura e Escrita (Bogotá, Colômbia)



Presidente da mesa
Marcia Wada
A Cor da Letra (São Paulo, Brasil)

Dia 24/08/07, sexta-feira, das 9h às 17h 9h às 10h30 Conferência 5 - O Tripé Infância-Literatura-Leitura -
Marcos de sua Estruturação na Argentina
Conferencista
Cecilia Bettolli
Centro de Difusão e Investigação de Literatura Infantil e Juvenil (Córdoba, Argentina)



Presidente da mesa
Cynthia Maria Campelo Rodrigues
FNLIJ (Rio de Janeiro, Brasil)

10h30 às 12h Mesa de debates 4
Palestrantes

Bartolomeu Campos de Queirós
Escritor (Belo Horizonte, Brasil)

Por que Escrevo - Reflexões sobre a Leitura do Texto Literário e Educação


Marina Colasanti
Escritora e jornalista (Rio de Janeiro, Brasil)

Espaços da Prática Criativa, do Livro e da Literatura


Coordenação
Luiz Raul Machado
Escritor (Rio de Janeiro, Brasil)

12h às 13h Almoço
13h15 às 15h Mesa de debates 5
Palestrantes

Nilma Gonçalves Lacerda
Universidade Federal Fluminense (Rio de Janeiro, Brasil)

Leitura: Uma Escolha de Caminhos


Ricardo Azevedo
Escritor, ilustrador e pesquisador (São Paulo, Brasil)

Problemas do Uso de Textos de Ficção e Poesia na Escola


Coordenação
Regina Célia Lico Suzuki
Secretaria Municipal de Educação de São Paulo (São Paulo, Brasil)

15h às 15h30 Intervalo
15h30 às 17h Conferência 6 - Leitura e Literatura em Tempos de Internet
Conferencista
Nelly Novaes Coelho



Presidente da mesa
Paulo Castro

17h Sessão de encerramento
Elizabeth D´Angelo Serra
FNLIJ (Rio de Janeiro, Brasil)



Paulo Castro
Instituto C&A (Barueri, Brasil)

Seminário Prazer em Ler - Instituto C&A
Todos os direitos reservados - 2007
AG2
Terminal de ônibus de Sorocaba tem biblioteca
O Estado de S. Paulo - 07/08/2007

Desde a semana passada, passageiros de ônibus de Sorocaba não precisam apresentar documentos nem preencher cadastro para retirar livros num posto avançado da biblioteca municipal. O guichê está instalado no terminal Santo Antonio, o principal do sistema público de transporte da cidade.

Basta escolher o título, que deve ser devolvido em até 15 dias. O projeto “Vai e Vem” colocou cerca de mil livros à disposição e recebe doações. O posto abre três dias por semana, das 10 às 19 horas. O projeto estimula a leitura e a responsabilidade, já que não tem como cobrar a devolução dos livros.

terça-feira, abril 24, 2007

No mês de março, foram promovidas visitas monitoradas pela Biblioteca da UNESP, campus de Bauru, para a apresentação da biblioteca e do sistema on-line de acesso ao acervo bibliográfico, com o objetivo de adaptação dos calouros ao novo ambiente e suas implicações.

As visitas foram agendadas pelo coordenador de cada curso no campus, diferentemente do que ocorria em anos anteriores (em que as visitas eram agendadas pelos próprios alunos, superlotando as salas de visita). Foram divididas por turma, de modo que todos os alunos conheceram as características da biblioteca num ambiente que acomodasse a todos.

Durante as visitas, programadas em três horários diários, bibliotecários e um técnico em biblioteconomia acompanharam os alunos às diversas instâncias da biblioteca, fornecendo informações a respeito do acervo e do sistema on-line de acesso ao mesmo, através do catálogo Athena. Foram disponibilizadas informações como: datas e prazos de empréstimos, reservas, conservação e renovação de livros, bem como a ocorrência de multas e penalidades, em relação aos mesmos.

Maith Martins de Oliveira, bibliotecária supervisora da UNESP, afirma que "as visitas à biblioteca são de extrema importância, pois durante as mesmas os estudantes têm acesso a informações e serviços mais amplos do que apenas os relacionados ao acervo e sua utilização, como, por exemplo, os serviços de Base de Dados, Comutação Bibliográfica - COMUT e Empréstimo entre Bibliotecas - EEB, serviços que articulam diversas bibliotecas do município e do país".

Para a apresentação do catálogo Athena, sistema on-line através do qual é possível realizar as transações de empréstimo, reserva e renovação de volumes, foi disponibilizada uma sala de demonstração, contendo cerca de 15 computadores, para que os alunos pudessem acessar, não somente o sistema Athena, mas também a página da biblioteca e o boletim informativo da mesma, atividades realizadas sobre monitoramento.

Segundo a bibliotecária, "durante as visitas, os alunos não dispõem de muitas dúvidas, aparentemente, mas estas surgem no decorrer do ano, na utilização efetiva da biblioteca; para sanar possíveis dúvidas e auxiliar na utilização do sistema, os funcionários da biblioteca estão sempre disponíveis".

Outra inovação se refere a visitas periódicas a biblioteca, que ocorrem durante o ano, para alunos veteranos, agendadas por professores dos diversos cursos. De acordo com a bibliotecária, "para os alunos veteranos, acostumados com o sistema antigo de acesso ao acervo, a adaptação ao sistema on-line Athena é muitas vezes difícil". Para sanar este problema, as visitas dos alunos veteranos a biblioteca surge como uma alternativa, inserindo-os na pesquisa ao banco de dados.

Entre as diversas iniciativas promovidas pela UNESP, campus de Bauru, para auxiliar na adaptação aos alunos ingressantes no ano de 2007, como, por exemplo, a Semana de Integração, as visitas monitoradas a biblioteca promovem maior autonomia discente, possibilitando que os alunos direcionem sua vivência acadêmica segundo seus interesses.
Para maiores informações a respeito da biblioteca e os serviços prestados por ela, é possível acessar o site http://www.biblioteca.bauru.unesp.br/

Fonte: Unesp

domingo, fevereiro 18, 2007

Biblioteca Mário de Andrade

Pensando neste ideal de biblioteca, é impossível não lembrar da contribuição de Sérgio Milliet para a Biblioteca Mário de Andrade e para a cidade de São Paulo. Grande conhecedor de artes plásticas no país, Milliet foi o terceiro diretor da biblioteca e nela atuou de1943 até 1959. Durante estes 16 anos elevou-a a um padrão internacional, sendo desta época a relação desta com a Biblioteca Nacional de Paris. Atento ao plano de preservação que constituiu desde o início o plano principal da Biblioteca Mário de Andrade, Milliet criou em 1945 a sala de Artes, nela agrupou testemunhos e registros significativos para a história da arte e da cultura. Para Sérgio Milliet o legado artístico de cada geração deveria ser preservado, para que as futuras gerações pudessem entender, através destes testemunhos, não apenas o passado, mas o próprio presente. Assim, a biblioteca oferece ao público um dos acervos mais expressivos do país, destacando-se dentre suas coleções mais importantes as de Referência, Artes, Mapas, Obras Raras e Periódicos, num total de mais de mais de 3 milhões de itens. Conta ainda com os Serviços de Multimeios, Microfilme, Reprografia e com um acervo para empréstimo domiciliar, feito pela sua Seção Circulante. Oferece várias atividades culturais, através de sua Seção de Extensão Cultural e Colégio de São Paulo, como cursos, palestras, oficinas literárias, exposições, recitais e shows musicais. O público freqüentador é heterogêneo, formado na sua maioria por estudantes universitários e de nível médio, pesquisadores e profissionais das mais diversas categorias, cuja afluência é decorrente da qualidade do acervo e da localização privilegiada da biblioteca na cidade.

segunda-feira, fevereiro 12, 2007

RDBCI , V. 4, N° 2 (2007)

Pesquisas na web: estratégias de busca
Searching on the web: search strategies
p. 53-66


Elias Estevão Goulart, Universidade IMES
Annibal Hetem Junior, Centro Universitário da Fundação Santo André



Resumo

A World Wide Web tem sido utilizada amplamente para a busca e seleção de informações, resultando em um de seus principais empregos como suporte para atividades acadêmicas e profissionais. Este trabalho apresenta um estudo sobre as estratégias de busca de informações na World Wide Web, visando analisar e comparar os resultados de uma pesquisa exploratória com estudo similar realizado na Universidade de Telaviv. Apresenta-se nove formas possíveis de buscas e como elas foram utilizadas nos estudos comparados. Como resultado, são apresentadas as mais efetivas e sugere-se melhor treinamento dos usuários para o conhecimento das técnicas apresentadas.

Palavras-chave
Estratégias de busca; Internet; World wide web

Abstract
The World Wide Web has been largely used for searching and selecting information, and is one of the most important tools to support academic and professional activities. This work presents a study about information search strategies on the world wide web, seeking to analyze and compare the results of a similar exploratory research implemented at Telaviv University. It presents nine possible ways of information search and how they were compared in both studies. As a result, the most effective of the strategies are presented and users training are suggested as the best way to make them aware of the discussed techniques.

Key words
Search strategies; Internet; World wide web

domingo, fevereiro 11, 2007

Em prédio contemporâneo com ar de sebo, 1,28 km de livros

Livraria da Vila abre outra loja, desta vez na Alameda Lorena, Jardins, para deleite dos leitores

Daniel Piza

Quem passeia pelas ruas dos Jardins, com suas lojas, restaurantes, hotéis, cafés e sorveterias, que sugerem poder aquisitivo e bom gosto, imagina que poderia haver ali uma livraria muito boa. Agora não precisa mais imaginar. Daqui a cerca de três semanas, no número 1.731 da Alameda Lorena, o bairro ganha a Livraria da Vila. A nova unidade da livraria que nasceu em 1985 na Vila Madalena - e que há dois anos abriu filial na Casa do Saber, no Itaim - foi projetada por Isay Weinfeld e terá, além de 130 mil livros, um andar para DVDs e CDs, um café e uma sala para cursos e palestras.'É uma loja nova; tem nossa marca, mas não é igual', diz Samuel Seibel, o proprietário das livrarias. 'Não se trata de uma franquia. Nossa idéia nunca foi ter uma rede.' A livraria da Lorena, apesar de cerca de 30% de volumes a mais, terá perfil semelhante à da Fradique Coutinho: um acervo que não se limita aos lançamentos mais recentes e inclui o chamado 'fundo de catálogo', como os clássicos; forte ênfase na seção infantil, que ocupa todo o andar inferior; atendimento qualificado, aberto a encomendas; e realização de muitos eventos, como noites de autógrafo. Mas terá particularidades, como o destaque a livros de arte, fotografia e culinária. E, claro, o projeto de Weinfeld.'Sempre fui admirador da arquitetura dele', diz Seibel. 'Achei que o Isay seria um dos poucos capazes de criar uma linguagem clara, funcional, e ao mesmo tempo com muito charme, com um clima acolhedor.' Seibel diz que a livraria, como a da Fradique, é encarada como 'um ponto de encontro, um pólo cultural', e para isso o projeto era fundamental. Weinfeld diz que é justamente esse o motivo por que está achando 'fascinante' o trabalho. 'Eu tentei criar uma livraria como as que gosto de freqüentar, um lugar onde o cliente sente vontade de ficar.' Em cidades como Rio, Londres e Nova York, é comum encontrar livrarias assim. Em São Paulo, não.COM JEITO DE SEBOA livraria fica num dos quarteirões menos agitados da Lorena, entre os restaurantes Z Deli e Piola, onde antes havia uma loja de Fause Haten. Mesmo em obra, já se pode perceber que o espaço combinará quantidade com critério. Não há nada que lembre o estilo 'megastore' cada vez mais presente no setor. 'Quis dar à livraria um jeito parecido com o dos sebos', conta Weinfeld, apontando o desalinhamento de algumas das prateleiras, que são de cor marrom escuro (exceto no andar dos infanto-juvenis, onde são brancas). 'É uma pseudo-desorganização', define. Mesas de madeira antigas, de grandes designers brasileiros, serão tomadas por pilhas de livros e luminárias. Sofás com tecido jeans, encaixados entre as estantes, e poltronas espalhadas completam o ambiente 'lotado de livros'.O aconchego também se verá nos outros andares. No superior, onde ficarão os CDs e DVDs, ao lado de livros sobre esses temas (música e cinema), fica o café, com sete mesas na parte interna e três na externa. No inferior, haverá quatro 'buddha begs' - grandes pufes coloridos - para que as crianças sentem e, além de ler, ouçam contadores de histórias. O auditório, com cerca de 50 lugares e vista para um jardim lateral, fica nesse mesmo piso. Toda a tipologia da livraria, ao mesmo tempo prática e refinada, foi desenvolvida por Roberto Cipolla. Os rodapés e caixilhos embutidos, até mesmo dos aparelhos de ar-condicionado, têm a marca do escritório de Weinfeld.O estilo de Weinfeld, naturalmente, pode ser reconhecido desde a fachada (veja o croqui nesta página). O recuo de formas retas, pontuado por uma árvore e um banco à direita, além de um pequeno jardim ao longo do muro oposto; a fachada com um bloco de concreto cinza encimado pelo letreiro em fundo vermelho; e as portas pivotantes, ocupadas como estantes de livros, que ao fechar formam uma ampla vitrine horizontal - esses são apenas alguns elementos característicos. Dentro, além do jogo entre as texturas dos sofás e tapetes com as longas fileiras de livros, vemos também a grande escada sob luz zenital e uma série de detalhes que enriquecem a experiência arquitetônica do visitante.O toque mais original fica por conta dos dois vãos que conectam visualmente os andares. Do térreo para o superior, o vão é quadrado e marrom, com as laterais cobertas de livros para cima e para baixo. Do térreo para o inferior, ele é oval e branco, também emoldurado por livros, e dali mesmo já vemos que os elementos curvos distinguem o ambiente infanto-juvenil.O que deverá impressionar, mais uma vez em Weinfeld, é que um terreno de 10 por 40 metros se multiplique em três pisos de pé direito médio (diferentemente do que ocorre na Vila Madalena) a ponto de abrigar não só 1,28 km lineares de livros, mas também 12 mil CDs e 3,6 mil DVDs, sem dar a sensação de abarrotamento. Sorte do bairro, sorte da cidade.

quinta-feira, janeiro 11, 2007

Leitura e Animação Cultural - repensando a escola e a biblioteca - organizado por Tania M. K. Rösing e Paulo Becker.Editora UPF

Resenha abaixo
Repensando a Leitura, Animando a Escola e a Biblioteca:A cura para o analfabetismo cultural

Luís Peazê*

Com este tomo de Leitura e Animação Cultural – repensando a escola e a biblioteca nas mãos, me ocorreu a analogia com uma frase de um carpinteiro naval amigo, sobre a construção dos barcos de madeira. Disse-me ele: quando se constrói um barco realizando um sonho, a alma que habita o tronco das árvores vai aos poucos se integrando com a alma do próprio sonhador e ali começa a história de ambos, que nunca mais se dissociam um do outro, barco e construtor.
Falar de barcos, leitura, sonho e livros é um movimento natural e recorrente para mim, da mesma forma deveriam ser indissociáveis a escola da biblioteca, estas da cultura, e obviamente os agentes sociais dos livros e multimeios de leitura, produzindo todos juntos uma onda orgânica e realimentadora do saber. E foi exatamente esta visão que eu tive logo na apresentação feita pela Professora Tania Rösing, desta coletânea de artigos, produzidos a partir da discussão e reflexão dos princípios e metodologias desenvolvidas no curso de Especialização em Leitura e Animação Cultural, do Centro de Referência de Literatura e Multimeios da Universidade de Passo Fundo, RS.
A visão, contudo, se deu pelo viés do "na-prática-não-é-isto-que-acontece" na conclusão que a Prof. Tania faz ao comentar a importância da dinamização de bibliotecas escolares e a transformação de bibliotecas em centros multimidiais de promoção de leitura, posto que a leitura é prática social de interesse de todas as áreas do conhecimento, "especialmente quando se constata um analfabetismo cultural em diferentes segmentos profissionais". Afirmação forte, mas discorde se for capaz – pronto, o livro se torna um desafio. A cura.
E a sua leitura é animada, poderia não ser, quando se entende o seu propósito: um livro que ensina a se ensinar a ler, e onde se aprender a ler, neste caso quem não for um educador de leitura, sabendo que, para ensinar a ler tem-se que aprender a ensinar aprendendo com os leitores. Por fim, para se ensinar e aprender qualquer matéria, saber ler é fundamental.
Eu sei ler? Perguntei e mergulhei no primeiro capítulo, "Contribuições Teóricas para o desenvolvimento do leitor: teorias de leitura e ensino", pensando, honestamente, que fosse marear logo nas primeiras vagas, e quando me dei conta estava já em alto mar, lendo inclusive o contraste não apenas sonoro entre o português e o espanhol desta edição bilíngüe.
O interessante, e aí aparece o mérito dos organizadores, é que os textos se coadunam indiferentes às preferências cognitivas dos seus autores, pois, se um opta pelo registro in loco da referência bibliográfica, que remete o leitor ao rodapé e dali às estantes das bibliotecas propriamente ditas, o outro escolhe o subterfúgio da expressão coloquial, para, ambos, criarem imagens que podem remeter o leitor criativo à produção de um conto, se quiser. Por exemplo: ao estabelecer um paralelo entre alunos de leitura que provêm de famílias com pouca ou nenhuma escolaridade, diga-se, não acostumados com bilhetes domésticos, leituras e referências a jornais, revistas e, francamente, nem a livros, e alunos que aculturam-se socialmente através inclusive destes meios de leitura e hábitos e costumes qualquer coisa sofisticados, um dos autores aproveita para criar-nos mentalmente uma biblioteca de referências imperdíveis, tais como em Bamberger, Bakhtin, Terzi, Rojo, Shirley B. Heath, por aí. E temos ou não temos assim, um cenário real, factível? Daí, como aprender e ensinar leitura neste contexto?
Outro autor, como se tivesse combinado com o anterior, refere-se à conhecida afirmação de Paulo Freire: "A leitura de mundo precede a leitura da palavra". O caso da criança que abre os olhos e lê o teto, os corpos gigantes das pessoas curvadas olhando para dentro do berço, depois ela lê as árvores, o vento, os animais, as coisas ao redor e aquilo que lhe servem à boca, quando um belo dia todos os substantivos são reapresentados a ela com este sobrenome e um nome próprio, ela descobre a palavra, as regras escritas e começa a ler o mundo novamente, agora através do letramento. Mais adiante o mesmo autor nos põe também na cena de um conto a ser escrito, lembrando o hábito de crianças ainda não alfabetizadas imitando o gesto dos adultos lerem – a idéia é para afirmar que a leitura está definitivamente introjetada no modus vivendi do homus sapiens, mas o conto está ali antes de tudo. E estamos lendo, inclusive lendo nas entrelinhas deste próprio livro que ensina a ensinar a ler.
E assim por diante seguem-se os demais artigos, inclusive citando a bibliografia dos organizadores, uma simbiose singular em livros do gênero. Nesta altura, se o livro nas suas mãos pecou foi em reafirmar sistematicamente a necessidade da criação de Centros de Promoção de Leitura de Múltiplas Linguagens e não vir com sons, cheiros, desenhos animados e coloridos, eletrônicos, interconectados, e com textos interativos e multimidiais. O que seria impossível, portanto um pecado inescapável, absolvido. Isto é, ainda estamos com o velho livro nas mãos, e lendo sobre tudo isso, sobre uma terra a ser descoberta. Talvez um dos motivos para não termos chances de marear, estando bem ocupados trabalhando sobre o convés da leitura.
A propósito, a hiper organicidade textual citada acima é abordada no livro de modo sintético, mas com mérito que merece destaque, posto que o assunto é tão novo quanto extenso, é tão desconhecido quanto afugenta àqueles que dele conhecem pouco ou nada, criando um escudo de inibição, no caso dos educadores. "Na verdade, a resistência em discutir os novos mídias em sala de aula parte geralmente da insegurança do próprio professor, que, de um lado, não domina ainda esses equipamentos e, de outro, também se sente excluído".
E a primeira parte termina, contudo sem antes deixar de assumir contornos ligeiramente difusos no artigo intitulado "Como planejar a pesquisa em leitura". Mas eu perguntaria: como ensinar a planejar pesquisa em leitura para ensinar a ler, em apenas um artigo? Talvez então, este artigo seja o que demande uma leitura mais atenta do que os outros, ou mais lenta, mais reflexiva, cerebral, abstrata. Quem sabe.
Corta para a Formação do leitor infanto-juvenil, pois até aqui não havia uma idade definida para o nosso público alvo, portanto, supondo que a resenha de um livro que pretende ensinar a ensinar a ler esteja sendo lida somente por adultos, cuidado, entrar-se-á numa área em que nós adultos afundamos no nosso passado e nos recusamos ao resgate de nós mesmos, embora afirmem os psicólogos de plantão, seja esta a saída para todos, nunca naufragar por opção. Sendo assim, coragem, viremos a página e rumemos para a "Natureza e funções da literatura infantil". E tenhamos uma aula de história, para nunca mais utilizar a expressão "cara de bobo como se estivesse num conto de fadas". Os contos de fadas nem sempre comportam as fadas, tampouco desaguam em finais felizes. Pensemos: quanta diferença há entre narrar um conto para uma criança conhecendo as suas fontes, e narrá-lo com a mesma ignorância dos infantes? Ora, se acreditamos que aqueles três porquinhos vivem exatamente como naquela última edição encadernada com capa dura e ilustrações recentes, não haverá nada, um gesto, um tom de voz, um sinal de que há um algo mais, verdadeiro, na história, e ela fica como em nós mesmos, submersa no passado, para sempre. Os dois primeiros artigos são meritórios exatamente por isso, não nos convidam somente a fazer chover batendo com as pontas dos dedos, depois com as palmas das mãos e finalmente com os pés, levando a audiência a imaginar um temporal sobre o telhado. O texto explica e explica bem. Uma aula. Nem por isso o façamos como num quadro de Bruguel (Jogos Infantis) em que ele retrata as brincadeiras de rua com os personagens sem nenhum sorriso nos lábios. E, novamente, adquire-se uma biblioteca, pois um dos artigos tem um lastro de três páginas com referências bibliográficas, portanto valoriza-se aqui o conteúdo – para a forma e estilo há muito tempo nesta própria resenha faz-se vista grossa. Sem culpa.
Parte três, terra à vista: A biblioteca como centro de ações educacionais e culturais. Já anunciava em sua apresentação, a Professora Tania Rösing, na França a biblioteca é um centro irradiador de conhecimento que modela o sistema de ensino. A biblioteca como eixo estruturador curricular. Aos livros! Aos espaços de leitura, aos projetos, conteúdos e animação cultural, à leitura na biblioteca multimídia, entre o poder e o desejo, à sala de leitura como espaço de animação cultural, à política educacional... Apesar destes títulos, os artigos não têm necessariamente o tom de planfletagem, mas não deixam de ser um mote com sabor de um novo paradigma, ou de uma sugestão de novo paradigma, necessário. Com destaque à experiência da Universidade de Extremadura, através do seu seminário interfacultativo de leitura como plataforma de cooperação entre instituições, pela novidade que representa para o educador/leitor brasileiro, e por ser o mais extenso dos artigos do livro – com algumas reservas pode-se, guiado por ele, provavelmente montar-se uma biblioteca modelo – bem didático. Estrategicamente colocado antes do artigo que transporta a contribuição francesa para o tomo, uma referência para os tomadores de decisão na esfera estrutural de ensino oficial.
E aqui, a poucas páginas do colofão, "A biblioteca e a sala de leitura como espaço de animação cultural" se nos abre diante dos olhos com um poema de Antonio Cícero, Guardar, fazendo analogia com o significado da palavra biblioteca que ao contrário de sua origem etimológica não deve permanecer associada à caixa de livros, ao lugar sombrio, inóspito, ranzinza. Se faltava poesia já não falta mais, naveguemos no que o autor sugere, num "território de produção de sentidos".
O fechamento deste livro de coletânea de artigos sintetiza o seu vasto conteúdo no seu último título: "ressignificando a escola", de modo que a biblioteca deve assumir um novo status no processo educacional e cultural. Ponto.
Resumo este produzido por um dos organizadores, não por acaso o criador há vinte e dois anos da maior movimentação cultural literária no Brasil, as Jornadas Nacionais de Literatura, que nasceram no seio do Mundo da Leitura, apelido carinhoso do Centro de Referência e Multimeios da Universidade de Passo Fundo, embrião para o curso de especialização em leitura e animação cultural, fonte para o presente livro, a pura realização de um sonho. Que de agora em diante passa a conter a mesma alma, embarcação e autores, numa coisa só. Leia mais>>>.
Os artigos citados acima são de autoria dos professores Tania Rösing, Paulo Becker, Hercílio Fraga de Quevedo, Maria Fátima Ávila Betencourt, Cláudio Joaquim Paiva Wagner e Eliana Teixeira (UPF); Sérgio Capparelli (UFRGS); Vera Teixeira de Aguiar e Luciana Lhullier Rosa (PUC-RS); Nanci Gonçalves da Nóbrega (UFF); Angela Kleiman (Unicamp); Leiva de Figueiredo Vianna Leal (UFMG)

terça-feira, janeiro 02, 2007

Esse tal de contador de histórias

Grupo Morandubetá

Por esses dias recebemos um e-mail com uma pergunta de um "navegador": O que é um contador de histórias?
Ficamos nos questionando sobre qual resposta daríamos. Qual seria essa definição. A pergunta nos fez refletir sobre o nosso trabalho. Quem somos nós? Como somos vistos aos olhos dos outros? O que é na verdade o nosso fazer? E descobrimos que existem muitas definições para os contadores de histórias. Descobrimos que existem diferentes espécies...Vamos explicar melhor.
Existem aqueles que contam histórias que aprenderam. Geralmente são histórias que gostaram e contam pelo prazer de falar e de serem ouvidos. Quase sempre a realização é mais pessoal que material, porém às vezes tentam ganhar algum dinheiro para contar e aceitam qualquer coisa. Com o tempo o repertório se esgota, fica repetitivo e vai cansando o ouvido dos outros.
Há os que resolvem ensinar o que não sabem e vivem dando cursos e escrevendo livros. Mas não dizem as palavras, não contam as histórias, não constroem a narrativa. Apenas ensinam, ensinam, ensinam. O quê? Nem eles mesmos sabem.
Um outro tipo é o que pensa que conta, que pensa que ensina, que pensa que escreve e além disso agencia e explora os artistas. Suga a essência vital do contador para ganhar o dinheiro e a fama que jamais teria com o talento que não possui. Aproveita-se da situação, dos conhecimentos (pessoais, políticos, familiares...) e ganha sem fazer esforço, sem "mostrar a cara", sem contar histórias. ESSES SÃO TERRÍVEIS!
Tem os que exageram e utilizam tantos adereços e "caras e bocas" que a narrativa se perde no meio de apelos redundantes.
Também não podemos esquecer dos artistas financeiramente insatisfeitos que buscam no ato de contar histórias apenas o lucro, não acreditando que seja um trabalho artístico.
Agora, existe o artista que é artista por natureza, que de nada precisa a não ser da palavra, do gesto e do olhar do seu ouvinte. O artista é sempre grandioso. Traz na alma a emoção e contagia a todos.
E há ainda os que têm o desejo do artista, acreditam no que fazem e o fazem com a alma, porque o corpo emprestam aos personagens das histórias. Investigam, pesquisam, inovam, escrevem, ensinam e aprendem muito, muito mais. Possuem um trabalho artístico e também são formadores de cidadãos mais conscientes, críticos e questionadores. Seus ouvintes não escutam apenas histórias, escutam no fundo de cada palavra a fala de educadores e formadores de leitores. Por que para esses que chamamos de narradores e pesquisadores da arte de contar histórias: leitura, educação e cidadania andam sempre juntas.
Temos certeza que deve haver outras espécies de contadores e aos poucos vamos descobrí-las. Elas estão crescendo e se multiplicando. Infelizmente também estão se vulgarizando e usando o nome do contador em vão, sem perceber ou se importar com o valor da palavra.
Contar histórias é revelar segredos, é seduzir o ouvinte e convidá-lo a se apaixonar...pelo livro... pela história... pela leitura. E tem gente que ainda duvida disso.
O contador é aquele que diz , por isso precisa saber bem o que irá dizer. Precisa ter dúvidas, certezas, conhecimentos, estudo e talento. Talento de sedução. Se fazer ouvir não é tão fácil assim, ainda mais quando atendemos a um público sem idade.
Contar histórias é uma arte e quem faz arte é artista, está no sangue, na alma. Quem faz arte não pode temer. Tem que encarar. A arte tem um preço. Tem um valor. Mas infelizmente sabemos que nem todo mundo tem olhos para admirar a arte, nem tem dinheiro para pagar o preço. E aí se confundem na escolha. E preferem qualquer coisa ao invés do nada.
Mas não podemos entrar nesse jogo, nem fazer menor. Este não é um trabalho para multidões, mas para um público que se sente seduzido pela palavra. Nós não "exploramos" o corpo, nem vulgarizamos a palavra, contamos histórias. Sem exageros ou excessos, com simplicidade e sutileza. E nunca estamos sós, pois as histórias nos acompanham, elas nos fazem preenchidos e nos fazem também solidários, já que estamos sempre dividindo palavras, ouvindo e contando.
Foi essa a resposta que encontramos. Não sabemos se podemos chamar de resposta. Ela está cheia de perguntas nas entrelinhas. Enfim...o contador de histórias é aquele que cria, é aquele que empresta o corpo, a voz e a alma para dar vida a mais uma nova história.
O contador é aquele que preserva a história e não a deixa morrer.