segunda-feira, agosto 11, 2008

Importancia das bibliotecas escolares

REVISTA EDUCAÇÃO - EDIÇÃO 136

Mudança de hábito

Redes municipais começam a "acordar" para a importância das bibliotecas escolares e a promover ações sistêmicas


Em 2001, durante seu mestrado em letras, Rovílson José da Silva, então professor de língua e literatura da rede pública de Londrina/PR, começou a pesquisar como se dava a leitura literária nas primeiras séries do ensino fundamental. Notou que havia dessintonia entre o discurso que exaltava a leitura, e as práticas, mal estruturadas. E, mais do que isso, que não havia bibliotecas nas escolas. "Havia praticamente só salas de leitura, que têm caráter sazonal e podem ser desfeitas a qualquer momento", relembra.

A partir do ano seguinte, passou a coordenar o Projeto Bibliotecas Escolares: Palavras Andantes (título de uma obra de Eduardo Galeano sobre o cordel), encampado pela rede municipal. A proposta se assentava em cinco eixos: formação de professores; implantação de uma biblioteca em cada unidade escolar; ampliação do acervo; estímulo ao empréstimo de livros; realização da Hora do Conto Semanal.

Seis anos depois, 80 escolas da rede (90%) contam com bibliotecas e em torno de 140 professores receberam formação. Entre 2002 e 2006, o número de empréstimos feitos aos alunos cresceu nove vezes, passando de 72 mil a 640 mil, resultado de uma política que busca fazer com que o estudante tenha o maior contato possível com os livros.

Segundo Rovílson, apesar de os livros distribuídos pelo PNBE serem de boa qualidade, a questão das bibliotecas tem sido "empurrada com a barriga há mais de uma década". "É preciso que os municípios tenham isso em conta, que provejam as escolas."

Em sua experiência, viu que há um vácuo enorme entre discurso e práticas escolares, pois, se todos falam que ler é bom e importante, sinalizam outra coisa ao deixar que as bibliotecas, quando existem, sejam mal iluminadas e mal arejadas, além de não funcionarem em muitos horários. "Se ler pode ser um bom lazer, por que ficam fechadas em muitos horários, até mesmo no recreio?", questiona.

Rede interativa
Em São Bernardo do Campo/SP, um projeto que a princípio deveria contemplar cinco bibliotecas escolares acabou por se transformar numa rede com 73 bibliotecas, com projeção para se estender às 158 unidades de ensino fundamental, infantil e especial da secretaria municipal. A empreitada começou com um convênio com a USP para a constituição da Rede Escolar de Bibliotecas Interativas (Rebi). Com o processo de municipalização, a rede cresceu e as novas unidades passaram a solicitar as bibliotecas.


Alunos da Escola Municipal de Educação Básica Anísio Teixeira, em São Bernardo do Campo: ensino para a busca da informação
As unidades são modulares, adaptáveis ao espaço da escola, mas com um mesmo padrão. Têm, em média, 100 m2, área de leitura, espaço cênico (arquibancada com palco, espaço audiovisual (com aparelhos e periódicos), três computadores (um para o responsável, um para as crianças, um para a comunidade) e um acervo inicial de 3 mil títulos. O mobiliário, desenvolvido pela Faculdade de Arquitetura da USP, é colorido e feito sob medida para o tamanho dos alunos, variando de acordo com os usuários. A verba para construção e equipamentos é de R$ 150 mil, administrada pelas Associações de Pais e Mestres de cada escola.

A Rebi já nasceu com a proposta de não ter bibliotecários de ofício à frente das unidades. A secretaria optou por criar o cargo de professor de apoio à biblioteca escolar (Pabe) para as unidades. Esses professores têm, além da formação inicial, uma manhã por semana de formação contínua, além de apoio da equipe responsável (quatro bibliotecárias, uma orientadora pedagógica e 12 professores de referência).

Segundo Dalva Francheschetti, chefe da Seção de Bibliotecas Escolares da Secretaria de Educação, os professores de apoio trabalham a partir de quatro eixos: infoeducação (em que ensinam aos alunos os princípios dos principais códigos de biblioteconomia), cultura, leitura e memória. "Não queremos dizer que temos todo o saber, queremos ensinar a criança a usá-lo. Então, compomos um acervo básico e mostramos como procurar em outras fontes", explica Dalva, para quem a associação entre planejamento e projeto pedagógico é fundamental para mostrar como as informações estão organizadas.

Os protagonistas
Os professores de apoio são selecionados entre os docentes da rede interessados. Roberta Massaini, Pabe da EMEB Profa. Jandira Maria Casonato há dois anos, trabalhava como professora de educação especial em três escolas e candidatou-se para "respirar, fazer outra coisa". "O trabalho no Rebi mudou tudo. Ainda sou professora, mas agora tenho de lidar com outros docentes e seus alunos. O bom é que conheço todos os estudantes da escola. Antes, olhava apenas para os meus", diz.

Cláudia Strini, que atua como "Pabe Referência", também buscou o cargo para se reciclar. Depois de 17 anos como professora de educação infantil, achou que era hora de passar sua experiência para colegas mais jovens e aproveitar o conhecimento acumulado em sala e em seus anos de formação. Visita as bibliotecas a cada 15 dias para reuniões de acompanhamento e planejamento. "O que funciona bem é reunir os Pabes para trocar experiências. Eles começam a ver tudo que é possível fazer", conta.

Ônibus-biblioteca
Fora da escola, também há relatos de sucesso na conquista de novos leitores. É o caso do projeto "Leitura em Movimento", da Secretaria de Cultura de Campinas/SP, que busca levar opções a espaços da periferia em que não há escolas. Desde 2003, dois ônibus-biblioteca visitam 40 bairros. O público, em sua maioria, é composto por adultos e crianças. Os adolescentes são poucos, a não ser quando há o chamariz do hip-hop. Também entre os adultos é preciso começar com o universo próximo para depois passar à literatura.

"Eles começam de um lugar do ônibus, onde estão as coisas de culinária, de bordados, e depois vão avançando", conta Gláucia Mollo, ex-coordenadora de bibliotecas públicas e responsável pelo projeto. Ela ressalta a importância do empréstimo. "Nos bairros tidos como piores segundo o conceito geral, estão as pessoas que mais devolvem os livros. O interessante é que são os filhos que os retiram pelos pais", relata.

II Forum doPlano Internacional de Bibliotecas Públicas e I Seminario Internacional de Bibliotecas Públicas e Privadas

Tema: Biblioteca Viva!


Numa ação conjunta entre a Coordenação Executiva do Plano Nacional do Livro e da Leitura (Ministério da Cultura e da Educação) e Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo acontecerá o “II FORUM DO PLANO NACIONAL DO LIVRO E LEITURA e I SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE BIBLIOTECAS PÚBLICAS E COMUNITÁRIAS no período de 14 a 17 de agosto de 2008na cidade de São Paulo.

Essa iniciativa deveu-se ao fato da grande repercussão do lançamento em 2006 do Plano Nacional do Livro e Leitura, ocasião em que foi organizado o I Fórum Nacional do Livro e Leitura, na Bienal de São Paulo.

Transcorridos dois anos, observou-se um crescente e estimulante número de iniciativas de promoção e incentivo à leitura nas diversas regiões do país, que podem ser conhecidas no site www.pnll.gov.br

Assim, a organização do II Fórum tornou-se imprescindível para a integração de pessoas que aderiram ao desafio de disseminar a leitura no país, assim como para o fomento e acompanhamento de ações implementadas na área.

O evento ganhou nova dimensão, reunindo-se com o “I Seminário Internacional de Bibliotecas Públicas e Comunitárias” idealizado pela Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo.

Serão discutidos experiências nacionais e internacionais (Argentina, Chile, Colômbia) bem sucedidas na área de promoção, mediação e incentivo à leitura incluindo projetos de acessibilidade para pessoas com baixa visão e cegas.

Será um grande prazer poder nos reunir para trocar experiências, compartilhar novas idéias e formular novas propostas de trabalho conjuntas.



Objetivos:

Promover a discussão entre profissionais e interessados na promoção e incentivo à leitura, valorização das bibliotecas, disseminação da informação.


Fazer uma retrospectiva de dois anos do Plano Nacional do Livro e Leitura - PNLL, analisando avanços e dificuldades encontradas.

Estimular desenvolvimento das pessoas que organizam, planejam e prestam atendimento à população em equipamentos culturais.

Temáticas do Evento
• Fomento à leitura e formação de mediadores
• Democratização do acesso
• Valorização da leitura e comunicação
• Desenvolvimento da economia do livro
• Planejamento e organização de serviços aos usuários
• Bibliotecas e ação cultural
• Projetos de acessibilidade a pessoas com deficiência