sábado, setembro 30, 2006

1,2,3, Agora é a sua vez: Relato de uma experiência

Kátia Tavares1Lígia Rodrigues2Susana Dantas3



Resumo

Discute o papel social e político das Bibliotecas Populares, através de um projeto de dinamização e recreação infantil desenvolvido na Biblioteca Pública do Estado na seção infanto-juvenil, no período de férias escolares, com o objetivo de aumentar a freqüência naquele período. Narra as atividades realizadas como resgate cultural através de oficinas artisticas de música, teatro e pintura, criação de uma agenda cultural dentre outras. Reflete sobre a função social da Biblioteca Pública e sua 'transformação" para escolar. Palavras-chaves
Biblioteca Pública, Biblioteca escolar, Leitura na biblioteca, recreação infantil.

1 INTRODUÇÃO
Um projeto de recreação em uma Biblioteca Popular geralmente tem a finalidade de contribuir para o “crescimento“ de seus usuários e da comunidade, considerando-se que a Biblioteca geralmente é “amparada”
por um discurso que a coloca como depositária da cultura e o Bibliotecário como animador cultural. “Ainda se
fala muito em animação cultural, em animador cultural, entre nós na prática essas expressões remontam a uma época em que o objetivo dessa “animação” era levar as pessoas a esquecer as “ agruras do cotidiano”, de modo a deixá-las num estado físico e espiritual mais conveniente para o trabalho do dia seguinte, da
semana seguinte” ( COELHO, p.99.1986). Discutir atividades de leitura em Biblioteca Popular e comunidades carentes é, antes de tudo, defender um discurso político, pois a atual organização política e social brasileira se divide em duas classes
dos dominantes e dominados, onde segundo SILVA “a percepção crítica do nosso sistema econômico e
político somada “a compreensão objetiva da nossa organização levaram-me a caracterizar o ato de ler como 1Bacharel em Biblioteconomia pela UFPE 2Bacharel em Biblioteconomia pela UFPE 3Aluna da Graduação em Biblioteconomia na UFPE sendo um ato perigoso” (p.163) . Se fosse “dado” a todos os brasileiros o direito a ler criticamente livros4que expressassem e questionassem as relações econômicas, talvez a realidade social fosse outra, quanto maior as
dificuldades de acesso a estes instrumentos “elucidadores”, menor será a possibilidade de mudanças reais na
estrutura social existente, ou seja, esse caos em que encontra-se a educação no Brasil tem um propósito claro
e bem definido pela elite dominante. Talvez, este fato explique o discurso simplista dos programas de governo com slogans do tipo “quem lê viaja”, com Rute Rocha dizendo que “vamos fazer do Brasil um País de leitores”, resumindo os
“problemas” de acesso a leitura a compras de milhões de livros. “Dessa forma fica fácil imaginar os porquês de existirem, em nosso país, mais de trinta milhões de analfabetos (..) e ausência de boas bibliotecas escolares e públicas, com acervos e serviços condignos, a altura
das necessidades da maioria da população” (SILVA, 1987, p.164)
Talvez em decorrência dessa “política” e a desestruturação (para não dizer ausência) de bibliotecas escolares, não haja uma identificação popular com as bibliotecas populares, uma instituição que, deveria ser
instrumento de conquistas sociais. Afinal, “atividade cultural, instiga, perturba, incomoda, e por isso, não se espera que o espaço onde ela se desenvolva seja lugar exclusivamente de lazer e procurado por multidões.” ( MILANESI, 1997) Em decorrência desse processo, as comunidades carentes, os analfabetos, crianças que ainda não são alfabetizadas, não vislumbram na biblioteca pública um espaço popular para interesses políticos como
reuniões de moradores, espaço para recreação infantil. Pela sua total descaracterização de popular para
restritamente escolar. Como defende MARTINS, (1994, p.35) “Enquanto permanecemos isolados na cultura letrada, não poderemos encarar a leitura senão como instrumento de poder, dominação dos que sabem ler e escrever sobre os analfabetos ou iletrados , essa realidade precisa ser alterada .Não que se proponha o
menosprezo pela escrita – isso seria tolice, ela em última instância, nos oportuniza condições de maior abstração, de reflexão. Importa antes começarmos a ver a leitura como instrumento libertador e possível de ser usufruído por todos, não apenas pelos letrados” (1994, p.35). Sugere-se então a “desmistificação” do espaço Biblioteca Pública como instituição neutra da cultura, como primeiro passo para um processo de empatia popular. Sem discursos, nem propósitos didáticos pois,
entende-se hoje que a leitura não é uma função que se nasce com ela e se desenvolve como um dom ou
talento, trata-se de um processo, desenvolvido através de seu exercício e que exige várias condições
favoráveis a ela. “A biblioteca pública, como um esforço de democratização da leitura, exige para seu desenvolvimento uma consciência da realidade que faz parte da visão geral que os indivíduos tem da
realidade” (MILANESI, 1983). Porém esta realidade entre indivíduo e biblioteca não se dá uma vez que, as
bibliotecas ao se transferirem para o poder público são geridas como repartição pública e com todo estigma
negativo de “repartição pública”. Sabe-se por exemplo que para leitura, precisa-se de tempo e que no entanto o funcionamento da biblioteca , é horário de repartição pública e não de usuário. Quando discuti-se os porquês e os pra quês da leitura e da biblioteca popular, agora sim está sendo desenvolvido um trabalho social e precipuamente cultural no sentido de desenvolver um senso crítico
daqueles que ali freqüentam, e não só com a leitura escrita, mas com a leitura de mundo que precede a leitura
da palavra a que Paulo Freire já se referia : (...) Uma compreensão do que é a palavra escrita, a linguagem, as suas relações com o contexto de quem fala e de quem lê e escreve, compreensão portanto da relação entre "leitura" do mundo e leitura da palavra, a biblioteca popular, como
centro cultural e não como um deposito silencioso de livros, é vista como fator fundamental para o aperfeiçoamento e a intensificação de uma forma correta de ler o texto em relação com o contexto. (1983)
2 AFINAL, QUE PROBLEMA É ESSE , LEITURA? Geralmente nos textos sobre os problemas da leitura e a falta de identificação popular com as bibliotecas populares são apontadas as causas, suas possíveis conseqüências e muito pouco de soluções
"práticas", mesmo havendo um consenso, que não há fórmulas mágicas que resolvam o problema , porém 4“isto é, livros que não mascaram elementos da realidade vivida, mas que desvelam em sua concretude”. Silva, Ezequiel Theodoro da. 1987.
são exposições sobre seus usuários (na maioria estudantes), e descaso na motivação que os "levam" a
biblioteca, ou seja, a obrigação escolar. Sabe-se que na atual sociedade descartável e de consumo não há tempo para ler. E que no entanto este processo requer reflexão e condições favoráveis , e que o espaço ideal a
este "exercício" e sua difusão seria a biblioteca. Mas como ligar esta a aquele? Supondo que a maioria das bibliotecas populares (entenda escolar) fossem espaços funcionais ao estímulo de "leituras", mesmo sabendo que a maioria de seus usuários, são "alunos" então porque não
identificá-los?, estruturando estudos verticais sobre estes usuários. A UNESCO em 1994 publicou um Manifesto sobre Bibliotecas Públicas onde define dentre outras que a missão-chave da biblioteca pública relacionada com a informação, a alfabetização e a educação e
cultura são em primeiro lugar "Criar e fortalecer o hábito de leitura nas crianças, desde a primeira infância"
. Esta recomendação tem fundamento uma vez que uma criança estimulada a ler desde pequena mesmo quando ainda não foi alfabetizada, consequentemente será um "bom" leitor. Como defende TERZI, "o
domínio da leitura antes de a criança iniciar a primeira série é um fator determinante de seu bom
desenvolvimento como leitora, ou seja o fato de a criança estar inserida numa cultura letrada tem uma
influência positiva significativa em seu progresso em leitura na primeiras séries escolares". (2001) Paulo Freire, há vinte anos atrás já defendia que "um outro ponto que me parece interessante sublinhar, característico de uma visão crítica da educação, portanto da alfabetização, é o da necessidade que
temos, educadoras e educadores, de viver na prática, o reconhecimento do óbvio de que nenhum de nós está
só no mundo" (1983, p. 30) Educadores, deve ser esta postura de professores e bibliotecários preocupados com o "esclarecimento" da leitura crítica tanto na biblioteca como na escola, apesar de estar nesta última, mais forte
enraizado o discurso da elite dominante, sendo reproduzido lá um movimento contrário ao de estímulo a
leitura como afirma KLEIMAN5, "cabe notar aqui que o contexto escolar não favorece a delineação de objetivos específicos em relação a essa atividade. Nele a atividade de leitura é difusa e confusa, muitas vezes
se constituindo apenas em um pretexto para cópias, resumos, análises sintática, e outras tarefas de ensino de
língua" ( 2002). Há quem interessa que o povo leia? Discutir atividades de leitura em Biblioteca Popular e comunidades carentes é, antes de tudo, defender um discurso político, pois a atual organização política e
social brasileira se divide em duas classes a dos dominantes e dominados, ALEVATO em sua pesquisa sobre
o mito da escola de qualidade esclarece , "a escola pública é representada como escola do Estado, isto é, cabe
a "ele" preocupar-se com ela, uma vez que, numa sociedade neoliberal, a valorização do privado embute um
distanciamento do público: a cada um cabe cuidar de si. " (1999) Desemprego, violência, fome e miséria, gravitam todos simultaneamente em torno da família pobre, que vítima da situação não propicia a seus filhos ambiente favorável a quase nada, a não ser a sua própria
sobrevivência. Pois se o processo de leitura, pede o contexto social em que está inserido este futuro leitor, é
cobrada também da instituição "família" sua participação. Porém com este estado de vire-se como puder a família está perdendo o domínio dos seus filhos, e a noção de cidadania. Como descreve TEVES em sua
pesquisa feita sobre ressocialização de meninos de rua , discutindo sobre a participação dos pais neste
processo: "interessante é que raramente atribuíam as suas condições de existência o fato de não viverem com
aquelas crianças, ao contrário, em geral culpavam a própria criança pelo seu abandono, aceitavam a situação de viverem separados como um dado de realidade: não tinha forças para retê-las, para educá-las, para corrigi-las, melhor dizendo, no imaginário de seus familiares, aquelas crianças
eram indomáveis, os pais rendiam-se a essa evidência, por isso mesmo se afastavam (..) Com isso, livravam-se do sentimento de culpa por. deixá-los 'a própria sorte. ( 1999). Um exercício de reversão do quadro atual exige, a participação social da comunidade, entendendo participação como “o processo histórico de conquista das condições de autodeterminação. Participação não
pode ser dada, outorgada, imposta. Participação existe, se e enquanto for conquistada. Porque é processo, não
produto acabado. Pela mesma razão é igualmente uma questão de educação de gerações. Não se implanta por
decreto, nem é conseqüência automática de qualquer mudança econômica, porque tem densidade própria,
embora nunca desvinculada da esfera da sobrevivência material. (DEMO, 1988)”. 5Angela Kleiman, Ph.D. pela universidade de Illinois EUA, professora do Departamento de Lingüistica aplicada no instituto de estudos da linguagem da unicamp. E que este caminho de participação popular se dá essencialmente via leitura, é sempre importante lembrar Paulo Freire, "a compreensão crítica da alfabetização, que envolve a compreensão igualmente crítica
da leitura, demanda a compreensão crítica da biblioteca" (1983) 3 JUSTIFICATIVA

A biblioteca Pública do Estado de Pernambuco, localizada no bairro de Santo Amaro, além de vários problemas políticos - administrativos é reconhecidamente utilizada por um segmento da sociedade carente,
que são os estudantes. (ou os “órfãos das bibliotecas escolares”). Sugeriu-se então a adoção de um programa de recreação e a dinamização do espaço , no setor infanto- juvenil na Biblioteca Publica do estado, para atender as propostas de ampliar seu espaço com o
intuito de contribuir para a formação de leitores críticos e como conseqüência cidadãos mais conscientes e
participantes.
A BPE é cercada por escolas públicas, localiza-se numa posição privilegiada central ao lado de um dos maiores parques da cidade que é o Parque Treze de Maio. Apesar de muitos “problemas estruturais” no
setor Infanto-Juvenil a BPE mantém em sua programação cultural atividades recreativas para comunidade
infantil em geral, durante todo ano inclusive nas férias escolares.
Propôs-se então que no Setor Infanto-Juvenil no mês de janeiro, fôsse implementado as habituais atividades e a inclusão de ações recreativas como resgate de brincadeiras antigas (bola de gude, pião etc.)
exibição de filmes e documentários nacionais, hora do conto, oficinas, e a melhoria das condições físicas do
ambiente como: adaptação da linguagem usada na sinalização para seu público. As atividades seriam
direcionadas por faixa etária e normalmente ministradas pela manhã, por convidados específicos.
Contemplando inclusive acompanhantes, sem portanto estabelecer critérios educativos e /ou pedagógicos

4 O QUE FOI FEITO OU AS ATIVIDADES DESENVOLVIDAS

O espaço físico da seção infantil da BPE é dividida em 3 ambientes funcionais, um primeiro voltado a estudantes adolescentes e as pesquisas escolares, o segundo à literatura infantil (e Infanto-Juvenil), com
mobiliário adequado a crianças pequenas. Na seção há uma programação mensal de atividades lúdicas e culturais, como: Hora do Conto “cineminha”,oficinas e jogos. Esta divisão entre os ambientes infantil e juvenil é caracterizada basicamente
pela decoração e pelo mobiliário, porém não há uma separação feita por paredes, ou restrições que impeçam
as crianças de usar um ou outro ambiente. O terceiro ambiente é área reservada para refeições dos
funcionários. Como já foi citado anteriormente há na seção vários problemas estruturais. As atividades na seção Infanto-Juvenil da BPE foram implementadas com a finalidade de estimular a freqüência dos habituais usuários no período de férias escolares. Os métodos adotados para estruturar as ações
foram: entrevista, questionário , observação e levantamento bibliográfico. O projeto de dinamização da seção contava com duas partes :uma "Física- estrutural", outra "cultural". Para a estruturação da primeira, a equipe lançou mão da observação e da entrevista com usuários e os
funcionários, para a segunda parte usou-se os questionários (ver anexo 1), numa amostragem inicial de 100
usuários.

4.1 DAS ATIVIDADES ESTRUTURAIS Para esta parte que foi denominada "física-estrutural" , foram desenvolvidos trabalhos no sentindo de melhorar o aspecto visual da biblioteca. Para isto foram feitas pinturas das janelas de vidro com tinta
guache, em substituição aos antigos "desenhos de isopor", de tamanho desproporcional as vidraças da
bibliotecas, o que escurecia o ambiente. Substituição das disposições do mobiliário, com o intuito de ampliar
o espaço de circulação dos usuários. Mudança de toda sinalização das estantes, com aumento da fonte , com a
finalidade de chamar mais atenção dos estudantes, para dar mais independência aos usuários. Foram retirados
o excesso de cartazes no setor, que o poluía visualmente. 4.1.1 O mito de isopor
Procurou-se também através da decoração desenvolver um trabalho de resgate cultural, das lendas e tradições brasileiras no espaço infantil, em substituição aos painéis de isopor , com figuras de "branca-de
neve", Cinderela, e outros mitos do imaginário infantil, representados por replicas dos desenhos Disney. Não desconsiderando, as idéias de Bruno Bethelem, em Psicanálise dos Contos de Fadas, onde ele defende a importância dos contos de fadas e de seus heróis e princesas para formação social e intelectual das
crianças, a substituição se deu mais por uma questão ergonômica, do que política. Como já foi dito, os
desenhos eram muito grandes para o espaço, muito infantis e tendenciosamente femininos, pois ali onde se
encontra as vidraças ficam coleções de literatura Infanto-Juvenil (adolescente) , o que poderia constranger
aqueles usuários. Optou-se então por um tema neutro, atemporal, e que pudesse ser substituído depois, caso a bibliotecária responsável pelo setor assim o desejasse. Foi escolhido então o motivo fundo-do-mar, onde
predomina os tons em azul (que é calmante), com a técnica da pintura em tinta guache, que é lavável, portanto
fácil de ser removível. Foi deixado um mural sem pintura, com o objetivo de abrir um concurso de pintura entre as crianças, onde o prêmio seria a pintura do desenho vencedor. O que não foi possível, pela baixa freqüência das
crianças.

4.2 DAS ATIVIDADES CULTURAIS Para a seleção das atividades, foram aplicados 72 questionários, entre crianças e adolescentes com idade média de 9 a 15 anos, no período de dois meses, respectivamente os meses de novembro e dezembro de
2002, a proposta inicial era entrevistar um universo de 100 usuários e não-usuários da unidade de informação,
porém os questionários foram aplicados no período de final do mês de novembro e inicio do dezembro,
coincidindo com os meses de férias, restringindo o número dos usuários entrevistados, um total de 52, vale
salientar que todos os questionários foram aplicados junto com entrevista com os jovens, despendendo um
tempo médio de 5 a 10 minutos por questionário. Foram consideradas crianças aqueles até doze anos e
adolescentes os até 16 como prevê o estatuto da criança e do adolescente. O questionário foi aplicado junto com entrevista, por haver "termos" e expressões que as crianças e os adolescentes não conheciam. Não foram consultados os acompanhantes das crianças, nem adultos, uma vez
que a programação daquele setor não contempla este público. Vale ressaltar que o "estudo do usuário", não foi um fim foi um meio, para garantir um suporte na escolha das ações culturais, portando só serão relatados alguns dos números que justificam as escolhas das
ações.

4.3 A PROGRAMAÇÃO
Através dos questionários (e entrevista) definiu-se sobre que atividades as crianças e os adolescentes se identificavam mais. Baseados nos dados criou-se uma agenda com atividades de segunda 'a sexta-feira,
desenvolvidos pela manhã pelos funcionários e 'a tarde pelas estagiárias de Biblioteconomia, com exceção das
oficinas que eram ministradas por convidados todos voluntários.(ver anexo 2). Após as atividades, era sugerido às crianças que se expressassem (se assim desejassem), através de desenhos, pinturas, sua percepção do exposto. Não se conseguiram patrocínios, mas deve-se salientar que com o apoio da direção da BPE, compramos pipoca, pirulitos, e doação de revistinhas educativas do SESI, onde foram confeccionados kits
para distribuição após cada atividade.
As atividades mais produtivas do ponto de vista da participação foram as oficinas (de música e teatro) e a Hora do Conto, as ações contaram com uma freqüência média de 20 crianças. Na oficina de
música, houve o recorde de audiência, havia cerca de 100 pessoas entre adultos e crianças. Esta foi ministrada
pelo músico Alexandre Rodrigues e a participação especial da "banda Amigos de Casa Amarela", esta atividade tinha a finalidade de explicar as crianças, um pouco de teoria musical, e indicar onde no estado
ensina-se o curso gratuitamente. Foram executados, frevos, cirandas. As crianças também tocaram junto com
a banda, algumas músicas, com os instrumentos da biblioteca que foram distribuídos entre elas .
A oficina de teatro contou com a participação especial dos usuários do setor Braille, da BPE cerca de oito pessoas entre adultos e adolescentes e o público remanescente da oficina de música, desenvolvida pelo ator Aramis Macedo, que fez uma breve descrição da história do teatro e improvisou uma dramatização com o
grupo. A "peça" nasceu sob o tema "o que você fez de mais importante hoje". Antes da encenação o ator fez
sessões de relaxamento, fazendo com que o grupo se integrasse e interagisse na proposta da oficina.
A Hora do Conto foi a atividade realizada cada Sexta-feira e ficava sob a responsabilidade de uma pessoa do grupo, cabendo a esta a escolha das histórias e etc. e as outras a monitoria das crianças e o suporte
técnico. Apesar da literatura sobre o tema, definir várias modalidades de hora do conto, desde à simples leitura do livro até dramatizações. A ferramenta escolhida, foi a de bonecos de fantoches, pois dava um
caráter de teatro a atividade, eliminando qualquer semelhança possível, com os trabalhos de leitura
desenvolvidos na escola. Todos os livros foram selecionados na biblioteca, para cada sessão da Hora do Conto, havia uma pré-seleção de até três livros, definido pelo número de crianças e pela idade média do grupo. Pois foi um dos
pontos citados em entrevista pelas funcionárias do setor, a imprevisibilidade da idade do grupo, podendo ser
adolescentes, crianças de até 8 anos ou muito pequenas com 4 anos, ou seja, deveria haver uma preparação
com histórias adequadas para qualquer um desses. Conscientes, desta faceta os livros foram escolhidos em
diversos níveis de compreensão da criança. (ver anexo 3) 4.3.1 Onde estão os filmes infantis brasileiros? Esta pergunta ilustra muito bem uma dificuldade encontrada em relação 'as atividades culturais. O "cineminha " 'as quartas, pretendia ser um resgate , aliás como todas as atividades, da cultura brasileira. O que
não foi possível pela falta de opção deste tipo de material. Os filmes inéditos que foram selecionados , como
"Castelo Rá-tim-bum", nbão foi encontrado em fitas, outros como "Tainá ", já havia sido exibido várias vezes na seção. Então optou-se por exibição de filmes estrangeiros, mais que contivessem um questionamento
político . Como, "vida de insetos", "Os monstros S.A.", "A era do Gelo". 5 OS RESULTADOS A maioria dos entrevistados 80% entre crianças e adolescentes eram oriundos de escolas públicas da vizinhança, estes afirmavam que havia biblioteca em sua escola, mas preferiam a seção Infanto-Juvenil da
BPE, pela sua diversidade do acervo e comodidade do espaço 79, 16%. A maioria dos estudantes (ver fig.2)
freqüenta a seção por obrigação escolar, porém estes números variam entre adolescentes e crianças, entre
estas últimas apareceu a motivação "brincar". Figura. 1 (gráfico que mostra o percentual de crianças e adolescentes entrevistados). Motivação- obrigação escolar38%62%crianças
adolescentesgrupo de usuários por faixa tária54%46%CriançasAdolescentesFig. 2 . Gráfico que ilustra a resposta a pergunta Porque você vem a esta biblioteca?

Este número talvez, justifique a falta de identificação entre os adolescentes e a seção , isto se dê pelo direcionamento que é dada as atividades só para crianças. E alerta para outra conclusão perigosa, que a
imagem da biblioteca está muito associada a escola, é como se a biblioteca fosse uma extensão da escola. E
"escola" não é lugar de se visitar nas férias (?). Porém entre as crianças (ver fig. 3), aparece outras motivações como por exemplo, jogar (brincar de academia, dominó, damas), ler e simplesmente beber água. Merecendo um estudo de usuário mais detalhado
deste, que se utiliza apenas do bebedouro da biblioteca. Há também os que vão por outros motivos, como o de
acompanhar um amigo, ou esperar a mãe que trabalha na biblioteca, ou nas proximidades.
Fig. 3 Outros motivos, além da obrigação escolar, para as crianças irem a seção Infanto-Juvenil.
Como já foi esclarecido anteriormente, este questionário não foi o objeto de estudo, portanto não serão analisados todos os números apenas os que reforçam a escolha das ações e os que dão mais
embasamento as constatações que foram feitas nas observações in loco . O que merece destaque é que, como foi diagnosticado no plano inicial a biblioteca tem vários problemas estruturais, como falta de refrigeração(é um local muito quente), pequeno para a quantidade de
usuários, enfim sem mínimas condições de conforto, apesar do exposto na pergunta sugestões, "o que você
sugere para melhorar a biblioteca?" 50% das crianças , afirmavam que não precisava melhorar em nada, em
contrapartida outros 50% pediam melhor atendimento. Entre os adolescentes 35% não tinham sugestões e os
outros 75% sugeriam idéias para melhorar a estrutura da seção como organização e limpeza, conserto do
sistema de refrigeração, aquisição de novos jogos, maior e melhor divulgação da programação. Um outro ponto que de grande relevância e reforça a idéia de desatenção com a biblioteca, é que em sua entrada há um "cavalete" como toda programação mensal, e apesar disso 62, 50% das crianças afirmavam Outros motivos para ir a biblioteca17%39%17%10%17%JOGAR
LER
FILMES
BEBER ÁGUA
OUTROSque não ouviu falar da programação, entre os adolescentes este cai um pouco, para 60,71%. Ou seja, não há
interação entre os entrevistados e a biblioteca. Merece destaque ainda, alguns depoimentos colhidos: "Não precisa melhorar nada, temos um bom atendimento" Danilo Rocha, 14 anos.
"Aqui a gente se sente mais aberto, tem mais livros, agente se sente no país das maravilhas" Douglas
Barbosa, 11 anos.
5 CONCLUSÃO
Embora esta pequena amostragem, demonstre que a maioria dos usuários da seção Infanto-Juvenil da BPE, não a freqüente nas férias, eles "acham" o espaço funcional, e que atende as suas necessidades de
pesquisa escolar. Talvez inconscientemente estes saibam que a biblioteca deva ter mais que livros, um
adolescente de 14 anos ao justificar sua preferência à seção em detrimento à de sua escola argumentou : "lá só
tem livros, faltam atividades". Dinamizar a seção, foi esta a meta principal do trabalho. Mas para quê? Para aumentar a "estatística" das férias? Ou para dar mais "atividade", àquela que o jovem se referia?. Dinamizar uma instituição como uma biblioteca pública, vai muito além da simples pintura, ou da implementação de uma agenda cultural. Uma biblioteca é administrada e usada por "pessoas", e esse processo
de "dinamização" deveria, a priori , ser o fio condutor de mudanças, primeiro no corpo dos funcionários e na
conduta com que desempenham suas funções. Em conseqüência destas mudanças deveria haver um trabalho
político com seus usuários. O que foi percebido na seção Infanto-Juvenil da BPE foi o descompromisso, com o real, o social. As atividades culturais existem ,mas não de verdade , normalmente não são implementadas, com a desculpa de
não haver usuários. E começa a discussão, não há usuários porque além do desconforto das instalações, não
existe um bom atendimento. E por isso os usuários não a freqüentam, e como não o fazem alguns funcionários
continuam com seu mau atendimento. Um trabalho cultural em uma biblioteca pública, vai muito além da famosa Hora do Conto, não é um trabalho cosmético, de fácil resultado. É um trabalho a longo prazo e de resultados duvidosos. No entanto este
pensamento sócio-cultural, deve ser a meta dos que fazem a biblioteca, o que se vê lá é a repetição de um
discurso conformista. E é esta a mais triste constatação, alguns bibliotecários não tem consciência de sua
missão político-social.
ANEXO 1 QUESTIONÁRIO Estudo do Usuário NOME (OPCIONAL)
_____________________________________________________________________________ 1.Qual a sua idade?
_______________________________________________________________________________
2.Qual o nome de sua
escola?_______________________________________________________________________
3.Qual a sua série?
_______________________________________________________________________________
4.Em que bairro você mora?
________________________________________________________________________
5.Em sua escola tem biblioteca?
_____________________________________________________________________ ( ) sim
( ) não
Você freqüenta mais lá ou aqui? Porque? _______________________________________________________________________________

6.Com que freqüência você vem a esta biblioteca? ( ) todos os dias ( ) uma vez por semana
( ) mais de uma vez por semana
( ) raramente 7. Por qual motivo você vem a esta biblioteca? ( ) obrigação escolar ( ) ler ( ) jogar ( ) assistir filmes ( ) outros _______________________________________________________________________________

8. Qual atividade recreativa você mais gosta?
( ) Hora do Conto ( ) jogos ( ) brincadeiras ( ) teatro ( ) música ( ) filmes ( ) oficinas
9. Você freqüenta a biblioteca nas férias?
( ) Sim Quantas vezes __________________________ ( ) Não
10. Você conhece a programação cultural do Setor infanto-juvenil?
( ) Sim ( ) Não
11. Que sugestões você daria para programação Cultural ?
_______________________________________________________________________________12. Que
sugestões você daria para melhor o setor infanto-juvenil da BPE?
_______________________________________________________________________________
ANEXO 2
PROGRAMAÇÃO CULTURAL DO SETOR INFANTO-JUVENIL DA BIBLIOTECA PÚBLICA DO ESTADO DE PERNAMBUCO JANEIRO / 2003

SEGUNDAS-FEIRAS - DIAS 06, 13, 20, 27
• Brincadeiras populares: "Um resgate da cultura infantil". Estagiárias do curso Biblioteconomia - UFPE
TERÇAS- FEIRAS - DIAS 07, 14, 21, 28
Dia 07 - música : "como é bom poder tocar um instrumento"
(demonstração e prática com instrumentos musicais) Alexandre Rodrigues - músico convidado
DIA 14 - Poesia - " A criança e as palavras "
Augusto M elo - poeta DIA 21 - Teatro : "Faça você um personagem"
Aramis Macedo - ator

QUARTAS-FEIRAS - 08, 15, 22, 29
Cineminha: "Telinha, pipoca e almofada"
QUINTAS-FEIRAS - DIAS 09,16,23,30.
Descobrindo a biblioteca e a informação"

SEXTAS-FEIRAS - DIAS 10, 17, 24, 31.
Hora do Conto: "uma história pra contar"

ANEXO 3 SELEÇÃO DE HISTÓRIAS POR FAIXA ETÁRIA PARA HORA DO CONTO CRIANÇAS* 4 -8 ANOS CRIANÇAS 9 - 12 ANOS ADOLESCENTES 12- 15 ANOS "Nicolau tinha uma idéia.." "A fada que tinha idéias..." LENDAS POPULARES- PE - FUNDAJ "A descoberta da Joaninha.." "Papirofobia.." " Couro de piolho" "Chapeuzinho Amarelo" "o reizinho mandão" " Os Três diabos" "Pata aqui, pata acolá.." "O fósforo" * "Meio a meio " Obs. livros utilizados na Hora do Conto.
FONTES BIBLIOGRÁFICAS

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pelas Emendas Constitucionais n. 1/92 a 22/99 e Emendas Constitucionais de revisão n 1 a 6/94. Brasília:
Senado Federal, subsecretaria de edições técnicas, 1999. 360 p.

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DIMENSTEIN, G. O cidadão de papel: A infância, a adolescência e os direitos humanos no Brasil. 13 ed.
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