sexta-feira, abril 07, 2006

Íntegra do documento aprovado no I Encontro Nacional de Conselhos Profisisonais

CARTA DE FLORIANÓPOLIS

Os Conselhos Profissionais de Administração, Biblioteconomia, Biologia, Contabilidade, Corretores de Imóveis, Despachantes Documentalistas do Brasil, Engenharia, Arquitetura e Agronomia, Economia, Educação Física, Enfermagem, Farmácia, Fisioterapia e Terapia Ocupacional, Fonoaudiogia, Medicina, Medicina Veterinária, Nutrição, Odontologia, Ordem dos Advogados do Brasil, Psicologia, Química, Radiologia, Relações Públicas, Representantes Comerciais, Serviço Social, participantes do I ENCONTRO NACIONAL DE CONSELHOS PROFISSIONAIS, realizado em Florianópolis, deliberaram manifestar à Sociedade Brasileira preocupação com a relativização da Ética nas Instituições públicas e privadas do país.
Certos de que no desempenho das suas funções, os Conselhos Profissionais desenvolvem ações para construção de um país mais justo e solidário, buscando garantir a universalização da prestação de serviços de qualidade a todos os brasileiros, com responsabilidade ética, conforme direitos sociais, sobretudo os definidos pela Constituição Federal. Mediante este documento, assumem o compromisso de efetivar, de forma integral e integrada, o estimulo à fiscalização técnica e ética em todos os procedimentos e participações dos profissionais, conselheiros e colaboradores nos respectivos campos de atuação como agentes públicos, bem como na formulação de políticas públicas. Reconhecem que a difusão e a defesa da ética são as razões precípuas da criação dos Conselhos Profissionais, que com sua articulação nacional, tornam-se um poderoso instrumento de transformação e construção de um país mais ético e desenvolvido.

Florianópolis, SC, 31 de março de 2006.

domingo, abril 02, 2006

Dois artigos interessantes publicados na Epoca e no O Globo expõem esta chaga da falta de bibliotecas. E de quem é a culpa? Das escolas? Ou das políticas públicas que banalizam e aviltam bibliotecas e que não estimulam e priorizam o seu gerencimento por bibliotecários devidamente habilitados e com a formação especifica para conduzi-las com eficiencia e eficácia?


Abaixo a banalização da Biblioteca.!!!!
Biblioteca não é um monte de livros numa estante!!!
A biblioteca é viva e tem que ser gerenciada pelo profissional que tem a habilitação especifica e a devida formação universitária.
Fora amadorismo!!!!

Epoca, n. 411, 3/04/2006

Um país que não lê

O Brasil tem índices humilhantes de leitura. E o problema não está no preço do livro. Está na escola

Paloma Cotes

BAIXA PROCURA
Mesmo as raras bibliotecas de qualidade, como a Mário de Andrade, em São Paulo, não têm filas na porta nem mesas lotadas
Na última década, praticamente todas as crianças brasileiras em idade escolar foram matriculadas. A taxa nacional de analfabetismo também recuou. Hoje, cerca de 98% dos jovens brasileiros conseguem escrever o próprio nome ou ler um letreiro de ônibus. Mas o país ainda está alguns capítulos atrás do aceitável em termos educacionais. Dados da Câmara Brasileira do Livro (CBL) mostram que, em média, cada brasileiro lê o equivalente a 1,8 livro por ano. Longe do que se vê em países como França e Estados Unidos, onde cada pessoa lê de cinco a sete livros por ano. Em rankings internacionais de leitura de países ricos ou em desenvolvimento, o Brasil é lanterninha, atrás de outros latinos como Argentina e México. Um terço dos alunos brasileiros de 1a a 4a série nunca pegou espontaneamente um livro para ler.
Um dos argumentos mais usados para justificar isso é o preço do livro. Não é uma explicação convincente. Cerca de 45 milhões de lares no país têm TV em cores. A mais barata sai por R$ 300, o que equivale a um pacote de livros. Além disso, as bibliotecas públicas e das escolas - quando existem - são pouco usadas. Os motivos populares para a aversão nacional ao livro são revelados por um levantamento da CBL. As justificativas mais citadas pelos entrevistados são a falta de tempo, o desinteresse e a pura preguiça. O quarto motivo: eles preferem outras formas de entretenimento. A razão menos citada é falta de dinheiro.
Essa vergonha assumida tem origem na escola. "Os brasileiros não lêem simplesmente porque não sabem ler", afirma Ilona Becskeházy, diretora da Fundação Lemann, um instituto de pesquisa educacional. Segundo o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica, apenas 2,5% dos alunos do ensino médio da Região Norte têm nível adequado de leitura. No Sudeste, os resultados também são ruins. Apenas 7,6% dos alunos têm nível adequado de leitura.

PROJETO DE ENSINO

Na Amazônia, alunos adquirem hábito de ler com a ajudade ONG

Um dos problemas é a falta de biblioteca na escola. Segundo o Ministério da Educação, metade dos alunos que estudam no ensino fundamental tem acesso a elas. No Nordeste, esse índice é ainda mais baixo. As bibliotecas estão disponíveis para somente 35,2% das crianças e dos adolescentes. Mas não basta rechear as estantes. É preciso também desenvolver o hábito de ler.
Essa é a chave de um projeto simples, criado por três garotas de São Paulo, a Expedição Vaga-Lume. Além de montar bibliotecas comunitárias em regiões distantes da Amazônia, elas investem na formação de professores, pais e alunos, para incutir neles o prazer de ler e contar histórias. "O brasileiro adora novelas. Elas nada mais são que histórias, que também estão contidas nos livros. É isso que mostramos às pessoas e que as faz mudar de comportamento", diz Sylvia Guimarães, da Vaga-Lume.
O Globo Rio, 01 de abril de 2006


Três razões para enfrentar o poder do Google

Rachel Bertol

Jean-Noël Jeanneney é o presidente da Biblioteca Nacional da França (BnF) e um dos principais convidados do colóquio “Bibliotecas Digitais”, segunda e terça-feira no Teatro da Maison de France. Também lança no Brasil “Quando o Google desafia a Europa” (Contracapa), no qual analisa as questões em jogo desde que a empresa anunciou, no fim de 2004, a intenção de digitalizar o maior número possível de livros. Nesta entrevista, dá três motivos para se enfrentar o novo poderio: o Google, diz, não tem critérios claros para a busca de livros; baseia-se sobretudo na obtenção de lucros, o que não é o caso de instituições públicas; e privilegia um olhar anglo-saxônico do mundo. Abaixo, suas opiniões sobre a nova era digital.
Acredita que as bibliotecas digitais podem ser um bom caminho para um país como o Brasil, que sofre com a falta de bibliotecas tradicionais? Talvez, com a proposta de venda de computadores populares, essa possibilidade se torne mais viável...
JEAN-NOËL JEANNENEY: O mundo digital oferece incontestavelmente possibilidades de acesso a bens culturais muito bons e inéditos. No entanto, exige a existência de uma infra-estrutura (rede elétrica, computadores) que faltam muitas vezes em países menos desenvolvidos. A queda rápida dos custos, os esforços realizados em escala mundial para reduzir a exclusão digital nos fazem esperar uma difusão rápida das novas tecnologias de informação, aptas a favorecer uma real democratização para o acesso ao conhecimento, ao saber, à cultura.
Será necessário repensar os antigos direitos de autor, baseados apenas no copyright?
JEANNENEY: A nova realidade digital não modifica o princípio fundamental do direito de autor, direito moral do autor sobre sua obra, nem a possibilidade de ele obter uma remuneração que lhe permita viver. Porém, supõe certamente uma adaptação, para que este equilíbrio, essencial à vitalidade da criação, não se rompa. O aparecimento de toda nova mídia — a imprensa escrita no século XIX, o cinema no início do século XX, rádio e televisão em seguida — levanta inevitavelmente a questão da remuneração dos detentores de direitos e, a cada ocasião, é preciso encontrar novas respostas.
Na música, as mudanças ocorreram de forma mais radical. As editoras deveriam se preparar para um “novo mundo”?
JEANNENEY: As dificuldades, relativas, que enfrenta a indústria do disco merecem de fato suscitar a reflexão no mundo da edição, mas também no da livraria, o qual já conheceu grande evolução, com a criação das grandes redes e o nascimento de sites de comércio online. O desafio consiste em adaptar essas profissões à nova realidade tecnológica; não se trata de pensar no seu desaparecimento! O papel do editor continua indispensável para a descoberta, a produção e a difusão do livro.
As possibilidades digitais já mudaram a realidade de uma instituição como a Biblioteca Nacional da França?
JEANNENEY: Desde o início do projeto de modernização da antiga e respeitável Biblioteca Nacional da Rua Richelieu, cuja origem remonta ao século XV, a dimensão digital estava presente. Hoje, Gallica, nossa biblioteca online, com 80 mil títulos disponíveis e outro tanto de imagens, pode ser acessada gratuitamente de todo o mundo a partir do nosso site (www.bnf.fr): recebemos todos os meses mais de um milhão de visitantes, curiosos com a cultura francesa. Mais documentos são consultados em um mês na Gallica do que em um ano nas salas de leitura da Biblioteca. É uma evolução que surpreende os espíritos. A BnF lançou inúmeros canteiros de trabalho na área digital. Um dos mais importantes é a digitalização dos principais títulos da imprensa, insubstituíveis ferramentas de trabalho do pesquisador, mina inesgotável de riqueza para o historiador, o sociólogo, o economista, e para o grande público curioso. Outra iniciativa promissora é a extensão do depósito legal a todos os sites da internet: trata-se de conservar para as gerações futuras os rastros desse novo patrimônio. A BnF também se envolveu com paixão no projeto de biblioteca digital européia.
Qual é a vantagem de se criar uma biblioteca digital européia?
JEANNENEY: O objetivo é pôr à disposição de um grande público a cultura européia, na sua variedade lingüística e ideológica: sua história tormentosa, seus debates filosóficos e religiosos, os avanços nos domínios das ciências e das técnicas, as tendências de pensamento em matéria de direito, sociologia, economia, as principais expressões da criação literária e artística do continente... A imprensa também é um eixo interessante: imagine que se possa consultar, num único clique, todos os jornais europeus de 2 de dezembro de 1805, dia da batalha de Austerlitz, a 11 de novembro de 1918, data do armistício que pôs fim à Primeira Guerra!
O Google ambiciona reunir todos os livros do mundo no seu mega-site. Não seria mais uma boa fonte de consulta?
JEANNENEY: Quando o Google anunciou o seu projeto, eu logo considerei que se tratava de um avanço considerável no desenvolvimento da cultura mundial. À condição, porém, de não se deixar a uma sociedade comercial americana o monopólio dessa iniciativa. Vejo três razões para isso. De um lado, o Google propõe um acesso no vácuo a todos os saberes; ora, uma verdadeira biblioteca digital deve oferecer um acesso que tenha um percurso organizado em torno de conjuntos coerentes de obras escolhidas. De outro lado, o Google é uma sociedade cujo motor é o lucro, o que me parece, aliás, totalmente legítimo. Mas as bibliotecas nacionais e, mais que isso, o poder público sustentam a continuidade a longo prazo dos interesses coletivos do patrimônio cultural. Enfim, o Google é uma sociedade americana que vai privilegiar necessariamente um olhar anglo-saxônico do mundo. Nós, europeus, queremos privilegiar a diversidade das trocas culturais, defender a “exceção cultural” em nível mundial e promover o multilingüismo.
Podemos falar numa guerra internacional para o controle do maior número possível dos documentos disponíveis?
JEANNENEY: Existe pelo menos uma confrontação de natureza econômica entre várias grandes sociedades (Google, Microsoft, Yahoo...) para as quais o mercado de informação, com os lucros publicitários que proporciona, tornou-se muito rentável! Soma-se a esta competição, profundamente natural nas nossas economias, uma diferença entre os interesses privados, de um lado, e o interesse geral, encarnado pelo Estado cujo papel é superar as variações conjunturais dos mercados para garantir a perenidade, a longo prazo, do patrimônio cultural.
E as tecnologias do livro digital, acredita que irão evoluir?
JEANNENEY: O e-book, caracterizado pela leitura de textos na tela, ainda não convenceu. Mas a nova tecnologia da “tinta eletrônica”, cujo custo ainda é alto, parece promissora.
O livro digital pode acabar com o tradicional?
JEANNENEY: Continuo convencido de que, apesar das evoluções impressionantes da tecnologia, o livro em papel se manterá um vetor indispensável na transmissão do saber. Cada meio de difusão da leitura apresenta trunfos e fraquezas: preço módico para o livro em papel (na Europa) e grande capacidade de difusão instantânea para o livro digital. Não me parecem concorrentes, mas muito complementares. Uma parte importante do público que freqüenta nossas salas de leitura consulta, igualmente, à distância, a biblioteca eletrônica.
Como imagina o futuro das bibliotecas com o advento dos meios digitais? Podemos falar na biblioteca infinita, borgiana?
JEANNENEY: Pode-se sonhar, como Borges, com a biblioteca infinita com a totalidade do saber no mundo! Mais modestamente, os meios digitais oferecem uma oportunidade formidável para a difusão do conhecimento e de progresso do espírito humano. As bibliotecas “reais” não vão desaparecer: os encontros que proporcionam continuam indispensáveis, sobretudo aos jovens. Nas nossas salas abertas, há leitores mergulhados em livros que coexistem harmoniosamente com internautas. A profissão de bibliotecário está sendo chamada a se transformar: vai se tornar mais rica e apaixonante.
LEIA MAIS
Colóquio vai reunir especialistas