Um país que não lê
O Brasil tem índices humilhantes de leitura. E o problema não está no preço do livro. Está na escola
Paloma Cotes
BAIXA PROCURA
Mesmo as raras bibliotecas de qualidade, como a Mário de Andrade, em São Paulo, não têm filas na porta nem mesas lotadas
Na última década, praticamente todas as crianças brasileiras em idade escolar foram matriculadas. A taxa nacional de analfabetismo também recuou. Hoje, cerca de 98% dos jovens brasileiros conseguem escrever o próprio nome ou ler um letreiro de ônibus. Mas o país ainda está alguns capítulos atrás do aceitável em termos educacionais. Dados da Câmara Brasileira do Livro (CBL) mostram que, em média, cada brasileiro lê o equivalente a 1,8 livro por ano. Longe do que se vê em países como França e Estados Unidos, onde cada pessoa lê de cinco a sete livros por ano. Em rankings internacionais de leitura de países ricos ou em desenvolvimento, o Brasil é lanterninha, atrás de outros latinos como Argentina e México. Um terço dos alunos brasileiros de 1a a 4a série nunca pegou espontaneamente um livro para ler.
Um dos argumentos mais usados para justificar isso é o preço do livro. Não é uma explicação convincente. Cerca de 45 milhões de lares no país têm TV em cores. A mais barata sai por R$ 300, o que equivale a um pacote de livros. Além disso, as bibliotecas públicas e das escolas - quando existem - são pouco usadas. Os motivos populares para a aversão nacional ao livro são revelados por um levantamento da CBL. As justificativas mais citadas pelos entrevistados são a falta de tempo, o desinteresse e a pura preguiça. O quarto motivo: eles preferem outras formas de entretenimento. A razão menos citada é falta de dinheiro.
Essa vergonha assumida tem origem na escola. "Os brasileiros não lêem simplesmente porque não sabem ler", afirma Ilona Becskeházy, diretora da Fundação Lemann, um instituto de pesquisa educacional. Segundo o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica, apenas 2,5% dos alunos do ensino médio da Região Norte têm nível adequado de leitura. No Sudeste, os resultados também são ruins. Apenas 7,6% dos alunos têm nível adequado de leitura.
PROJETO DE ENSINO
Na Amazônia, alunos adquirem hábito de ler com a ajudade ONG
Um dos problemas é a falta de biblioteca na escola. Segundo o Ministério da Educação, metade dos alunos que estudam no ensino fundamental tem acesso a elas. No Nordeste, esse índice é ainda mais baixo. As bibliotecas estão disponíveis para somente 35,2% das crianças e dos adolescentes. Mas não basta rechear as estantes. É preciso também desenvolver o hábito de ler.
Essa é a chave de um projeto simples, criado por três garotas de São Paulo, a Expedição Vaga-Lume. Além de montar bibliotecas comunitárias em regiões distantes da Amazônia, elas investem na formação de professores, pais e alunos, para incutir neles o prazer de ler e contar histórias. "O brasileiro adora novelas. Elas nada mais são que histórias, que também estão contidas nos livros. É isso que mostramos às pessoas e que as faz mudar de comportamento", diz Sylvia Guimarães, da Vaga-Lume.
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